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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Marrocos ( olhar superficial do turista) - Isabel Sousa



Marrocos ( olhar superficial do turista)


Viajar, ver mundos jamais imaginados é algo fascinante.

Pela primeira vez visitei terras africanas, a minha viagem se transformou numa apaixonante aventura que começou ao atravessar o estreito de Gibraltar, onde por algum tempo fiquei entre dois mares: O Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo.

O Ferri-boat nos empurrou suavemente até à costa da África. Este continente é considerado o mais antigo e por isso chamado o berço da humanidade, foi o ponto primeiro dos grandes viajantes. Marrocos está situado ao noroeste da África, fez a sua entrada na história por volta do ano 1000 antes de Cristo; é banhado pelos dois mares citados em cima, emoldurado por diversas paisagens nas encostas mediterrâneas de fina areia rosada e na zona atlântica por altas montanhas e bosques.

Fora das margens dos rios a paisagem é deserta e sem água, portanto, essas zonas são desabitadas. Em alguns lugares a sensação é de que o tempo parou.



Ao sul do Anti Atlas começa o grande deserto do Saara um dos mais importantes e extensos do mundo, há pequenas zonas em que a água permite o crescimento de vegetação e fixação do homem, porém, há outra extensão de terras áridas, e todo o conjunto nos oferece uma mística calmaria. Só os camelos, mansos, conformados, ora descansam nas rosadas areias, ora caminham servindo de montaria a turistas curiosos que experimentam algo de encanto, fascínio, sonho, paz... Oásis! Não há nada que ver nem ouvir parece que o ser humano se nutre de estímulos, assim a vida interior redobra nossas forças.



É o deserto maior do mundo, composto de dunas e de vastos espaços sem água. A temperatura no ar chega a 40 graus, mas há grandes diferenças térmicas que fazem as rochas tremerem, estas rochas têm fortes oscilações que dão lugar ao fenômeno de dilatação e contração, produzindo um som que os árabes atribuem ao “gênio” do deserto.


As dunas mais altas podem atingir até 300m de altura.

É um país cheio de mistérios e costumes ancestrais a que, seu povo não quer renunciar.


Fazer uma viagem por Marrocos é trasladar-se a um tempo vasto, é o país dos sentidos, dos aromas. Em suas Medinas (a parte primitiva das cidades) encontramos fortes contrastes, os cheiros das especiarias e dos curtumes. À entrada nos oferecem um galho de hortelã, talvez para abafar os odores que se misturam ao esterco dos animais que dividem o espaço com os transeuntes; as ruelas são tão estreitas que por vezes até parece que os burrinhos carregados de mercadorias nos pedem licença para passar.



Passos à frente, talvez em segundos, nos confunde os aromas de perfumes ou de pão recém amassado, e a população circula aglomerada, mas, tranqüila. Alguns pobres idosos sentados no chão pedem esmola, crianças uniformizadas e de mãos dadas caminham para a escola, e, um doce sorriso parece dançar em seus lábios. Elas conhecem bem aqueles labirintos, nós, turistas, sem guia nos perderíamos de certeza.


Saindo das Medinas, as partes modernas das cidades são amplas, e deixam ver a passagem da civilização romana, nítidas marcas que nos impressionam, foram os romanos que deram um grande impulso às construções, estabeleceram o comércio, desenvolveram a agricultura e fundaram núcleos urbanos.



Hoje há largas ruas bem asfaltadas. Prédios e casas conservam nas fachadas a cor rosada das areias.

Temos então as Mesquitas, lugar destinado à oração, o chão das mesmas é coberto de tapetes.

Todo o muçulmano deve conservar em mente esta frase que está escrita no Alcorão: - “Fiéis, recordai muito a Deus... Glorifiquem-lhe manhãs e tardes!”. E, eles cumprem a obrigatoriedade de rezar cinco vezes ao dia.

Porém, há minorias judias e católicas que convivem em um exemplo de tolerância. Contudo para os muçulmanos não há mais Deus que Alá e Maomé seu profeta. O livro sagrado, “O Alcorão” que todos estudam desde crianças, para eles só tem valor se estiver escrito em árabe, língua oficial de Marrocos. Segunda língua obrigatória é o francês; na faixa norte também se fala espanhol, pela grande afluência do turismo e, pela fronteira com a Espanha. Atualmente os jovens procuram aprender também inglês. É grande a facilidade com que os marroquinos aprendem idiomas.

Juntei um grupo de crianças que repararam em meu chapéu de Porto Seguro e nele a bandeira brasileira, sorrindo diziam: Brasil... Clone... Jade...

Lembrando a novela que tão bem retratou aquele espaço e a vida na Medina em Fez, a cidade mais antiga de Marrocos.

Brincando, comecei a ensinar-lhes algumas palavras em português, com que alegria e facilidade as repetiam, claro que, entre muitas, eles fizeram questão de falar as que já sabiam, e com a minha ajuda as aprimoraram, como: Ronaldinho, Kaká, Cafu, etc..

Despedimo-nos enfim, e eles gritaram:
Viva o Brasil!

Uma coisa que muito me impressionou foi a ausência do nosso fiel amigo: - O cão. Não há cães em Marrocos, salvo algum de olhar desconfiado que surja nas montanhas, parece dócil, mas é selvagem, é considerado um animal indesejado, impuro.

Em compensação os gatos são bem quistos, magrinhos, cordiais, nos recebem roçando em nossas pernas e, aceitando um colo se lhes for oferecido.

Os árabes possuem um artesanato belo e rico, trabalham com vários metais, couros, ossos de camelo, etc..





A forma de negociar confesso que, para mim bem cansativa, pois nada tem preço fixo, o regateio é constante, regateando é possível fazer bons negócios, não há nada comparável à paciência de um vendedor marroquino, para eles não importa o tempo, nos dizem sorrindo:

-“Vocês têm o relógio, mas nós temos o tempo”.

Eles nos cercam nas ruas, e quando o negócio é feito nas lojas, mal nos apercebemos já estamos muitas vezes tomando um chá com eles e discutindo preços, ou... até em tom de brincadeira, disfarçadamente mostram a vontade de atravessarem a fronteira, se percebem alguma moça que topa algum galanteio, o dirigem sorrindo, e acrescentam:

Só casando com alguém de fora conseguimos um passaporte.

Poucas mulheres se encontram nas ruas, enquanto homens caminham por elas ou se agrupam e conversam animadamente; alguns de mãos dadas, e com toda a naturalidade se abraçam.

É proibida qualquer manifestação homossexual.

Não há assaltos, podemos transitar pelas ruas a qualquer hora sem receio. Se fotografarmos algo típico, ou mesmo pararmos para ver, por exemplo: um encantador de serpentes - um aguadeiro - uma criança transportada às costas da mãe, etc., logo nos estendem a mão para pedir moedas.

- Voltando a falar das cidades modernas, mas que envolvem alguma coisa do passado, como:

- Marakech, pelas largas ruas de asfalto firme, circulam carros, lambretas e charretes puxadas por elegantes cavalos, há os “Petit táxi”, são táxis que dispõem apenas de três lugares e realizam os trajetos urbanos, a maioria não tem taxímetro, normalmente se negocia o trajeto. Há os “Grand táxi”, estes são táxis coletivos para percursos interurbanos.

Não irei falar de todas as cidades, diferentes umas das outras, mas, que ao mesmo tempo se assemelham, destacarei Rabat, pelo majestoso palácio do rei, que ao percorrê-lo nos transportamos a um conto de fadas; guardas uniformizados parecem estátuas montadas em cavalos, é tudo muito bonito e limpo, e mais uma vez a presença da arquitetura romana se impõe. Em um determinado lugar daquela área ainda se pratica o antigo ritual do sacrifício ao cordeiro, o qual é assistido como um grande espetáculo, depois a carne do animal será distribuída pelos pobres.


Muita coisa mais teria para contar sobre este místico mundo, porém, limito-me apenas a um resumo.

Cheguei precisamente no mês de Ramadan, neste espaço de tempo todos os muçulmanos não poderão comer fumar, beber, nada de atos que dêem prazer, desde o nascer do sol até que ele se ponha.

As Mesquitas ficam lotadas e às suas portas uma diversidade de calçado; não sei como farão para saber quem são os respectivos donos dos ditos sapatos e chinelos na hora da saída. Enfim, creio que fora do mês do Ramadan alguma coisa mudará, talvez não haverá tanta gente tão compenetrada, alguns parecem meio cansados, não é fácil trabalhar quando se leva tanto tempo sem comer nem beber, porém, conservam sua amabilidade habitual.

Como nem tudo são rosas... Depois de tantos contrastes – cidades - zonas desérticas, oásis, altas montanhas, extensas planícies, lagos, redutos vulcânicos, bosques, etc.
Saímos de Fez caminho a Tanger, chamada a cidade dos ventos, clima ameno, pela sua beleza banhada por lindas praias Tanger se converteu a um grande centro turístico durante todo o ano.

Atravessamos novamente o estreito de Gibraltar para chegar às costas espanholas. Desembarcamos em Algeciras a fim de passar pelos trâmites da alfândega.

Nesse espaço de tempo, jovens tentam se esconder nas partes inferiores dos ônibus, e quando descobertos, são levados à força pelos guardas da fronteira, é realmente constrangedor!

A policia entra nos veículos, desparafusa o piso a fim de ver se alguém está escondido. São jovens oriundos de vários cantos da África que sonham sair da pobreza e tentar uma vida nova em Espanha.

Demoramos muito tempo na fronteira, talvez cerca de duas horas ou mais, a vistoria é intensa. Embarcamos mais uma vez no confortável Ferry boat.

Chegamos a Ceuta, que pertence à Espanha, cidade bonita, que conserva toda a característica árabe.

De novo no ônibus, encaminhamo-nos ao parque natural dos sobreiros, percorremos a rodovia nacional que se chama “La ruta del toro bravo” cheia de pastos dedicados à criação deste animal.

Retornamos então, ao mundo ocidental.

(fotos de Isabel)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Constante Renovação - Isabel Sousa



As quatro estações
Se vão repetindo
Repetem-se emoções
E a Natureza vai fluindo

Na Primavera – poesia
Flores – frutos – vento leve
Espreguiça-se a folhagem
Verde – bela – renovada...
Afinada sinfonia!
O sol nasce risonho e breve
Sensação de miragem
Tímida e espraiada,
Lentamente chega o verão
Nas flores – no verde – o cansaço
O brilho desvanecido
Rumores marcando o compasso,
O Tempo não é vencido
Jamais perde a razão

O enigmático Tempo desliza...
O Outono começa a sorrir
A Natureza impávida e precisa
Indiferente vê o Verão partir
As folhas tombam pelo chão
As árvores bocejam indolentes
No triste sentir das folhas ausentes

O Tempo sábio – matreiro
Mistura feiúra e beleza
Parece sorrir brejeiro
Com eterna sutileza
Solta as folhas ao vento
Tristes e abandonadas
Imagens de desalento
Vagueiam pelas estradas

Ele, o eterno – o diverso...
Lá vai com sabedoria
E comanda o Universo
Com estranha maestria

Sonho - glorificação
Numa magia suprema!
Em constante transformação
Parece soltar um poema

No entanto, no reino animal
Não há renovações
Como no reino vegetal;
Quando o inverno terminar
Não haverá mais estações!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Leitura do Jogral em homenagem a Lupe Cotrim
No Sarau dos "Poetas da Casa das Rosas
Em 26 de setembro.

Lupe Cotrim Garaude Gianotti

Maria José Lupe Cotrim Garaude Gianotti
Nasceu em São Paulo em 16 de março de 1933.
Grande poeta do século XX.
Estudou Literatura - Línguas e Artes, fez programa de TV que a projetou publicamente.
Foi professora de Estética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Se destacou na poesia, é frequente a citação do seu soneto "SAUDADE".
Em um sarau na Casa das Rosas acabou de ser homenageada, e alguns de seus inúmeros poemas foram lidos e apreciados.
Morreu em 1970.



SAUDADE

A saudade é o limite da presença,
estar em nós daquilo que é distante,
desejo de tocar que apenas pensa,
contorno doloroso do que era antes

Saudade é um ser sozinho descontente
um amor contraído, não rendido,
um passado insistindo em ser presente
e a mágoa do perder no pertencido

Saudade, irreversível tempo, espaço
da ausência, sensação em nós presente
de ser amor somente leve traço

num sonho vão de posse permanente.
Saudade, desterrada raiz, vida
que se prolonga e sabe que é perdida.

FÉRIAS INESQUECÍVEIS - Isabel Sousa

Férias inesquecíveis

Isabel Sousa


Era domingo, Pedrinho esperava ansioso pela chegada de Sara e de Daniel, dois primos que ele não conhecia. Iam chegar pela manhã e a expectativa era enorme.

Então chamaram a amiga Lilica para a chegada dos primos.

Tudo preparado para uma grande recepção.

Um churrasco no quintal - balões – bandeirinhas – como se fosse um aniversário. Pedro de 5 anos – Sara de 6 e Daniel de 8. Os dois últimos são irmãos e moram do outro lado do Oceano e como eu disse, Lilica que com a sua alegria não poderia faltar, ela tem 8 anos igual a Daniel.

O avião aterrissou, desembarcaram enfim. Os pais se abraçaram emocionados. Ah, quanto tempo não se viam!

As crianças tímidas se olharam, a pouco e pouco se aproximaram.

Daniel chamou Pedrinho e lhe disse:

Sou teu primo e Sara tua prima.

Pedro sorriu se aproximou de seu pai e perguntou:

Papai, por que é mesmo que eles são meus primos?

O pai respondeu:

Por que papai é irmão do pai deles.

Pedro confuso diz:

E, a mamãe não é?

O pai resolve abreviar os detalhes e com ar muito feliz apenas diz:

Primos – tios – vovós – é o que se chama família.

Olha que divertido, eu sou tio de Sara – de Daniel – a mamãe é titia deles – os pais deles são seus tios... Lá em casa vovô e vovó esperam por todos nós, vai ser um dia inesquecível!

O que é inesquecível, papai?

Quer dizer que nunca mais esqueceremos este dia.

E assim foi; as crianças junto com Lilica e toda a família depois do almoço foram para o parque - jogaram bola – correram - brincaram de esconde-esconde – pularam corda - Que divertido!

Depois de cansados sentaram na areia do parque e Daniel perguntou:

Quem sabe o que é um palíndromo? E o que é uma capicua?

Pedrinho pensou:

Este meu primo é louco! Que palavras estranhas!

Daniel prosseguiu:

Palíndromo, é uma palavra ou uma frase que se lê da mesma forma, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, capicuas são números que lidos nos dois sentidos são iguais, vamos ver quem consegue encontrar mais palavras ou números?

Vamos!

Gritaram todos.

Escusado será dizer que Lilica ficou interessadíssima.

E assim foi, Daniel claro que ganhou o jogo.

Colocou:

OVO – RADAR – OSSO – ANA, etc.

303 – 3003 - 2002 – 1991, 2112... E ainda acrescentou:

Ao que me parece outro ano capicua vai ser só no próximo século, foi a minha professora que falou. Parece que vai se no ano de 2112.

Pedrinho muito a custo arriscou alguns números:

33 – 44 – 55 – 66 – 77 – etc.

Lilica entrou no jogo e depois de muito pensar falou pausadamente:

“A MALA NADA NA LAMA”

“O GALO AMA O LAGO”

Pára, reflete e diz:

Ah, é difícil, agora capicuas é mais fácil!

22 – 55 – 101 – 1001...

Aí, ia embalada e tiveram que mandá-la parar.

Voltando ao Palíndromo:

Sara que já havia aprendido com o irmão, quis mostrar que entendia da coisa, inflou o peito e muito segura disse uma frase já decorada:

“O LOBO AMA O BOLO”.

Palmas para a Sara!

Grita Daniel, e encerra o jogo com as seguintes frases:

“ANOTARAM A DATA DA MARATONA”.

“A TORRE DA DERROTA”

“A DROGA DA GORDA”

“ATACA O NAMORO”

“A CARA RAJADA DA JARARACA”

Aqui os pais entraram no jogo, aplaudiram, e ainda acrescentaram outra frase conhecida, mas que para as crianças era bem difícil:

“SOCORRAM-ME SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS”

Os pequenos de 5 e 6 anos não entenderam muito bem, mas gostaram da farra.

.

Lilica adorou aquele dia no parque e arquivou em sua cabecinha tudo o que aprendeu.

Ficou sabendo o que são Palíndromos e Capicuas.

As férias duraram um mês e muitos dias alegres foram marcados, mas aquele primeiro dia jamais foi esquecido, confraternização – magia – e até uma pequena aula da nossa Língua Portuguesa.

Daniel - Sara e seus pais regressaram ao outro lado do Oceano, e prometeram voltar mais vezes.

Ao se abraçarem na despedida disseram:

Quem sabe um dia voltaremos para ficar definitivamente com vocês.

Pedrinho sempre atento a tudo que se diz fez mais uma pergunta:

Papai, o que é definitivamente:

Papai e mamãe sorriram e os dois responderam:

Quem sabe um dia os tios e os primos virão morar perto de nós para sempre. Que quer dizer:

Definitivamente.

Obá! Obá!

Gritou Pedrinho.

Assim terminaram umas férias inesquecíveis.