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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NATAL!


Isabel C. S. Sousa



Era noite de Natal,
Um garotinho
Com um retrato na mão
E a alma cheia de Fé
Foi devagar, pé ante pé
Colocá-lo no sapatinho
Junto à árvore de Natal

Ajoelhou e rezou
Uma pequenina oração,
Em seguida acrescentou:

Papai Noel
Não lhe pedirei presente
Como mamãe está ausente
Peço-lhe um favor então;
Que procure minha mãesinha,
Talvez esteja sozinha
E dê-lhe um abraço grandão.

Aqui lhe deixo a sua fotografia
Para que a possa encontrar no céu
Papai Noel, dê-lhe um pouco de alegria
E diga-lhe que não esqueço o rosto seu.


Há pelo ar um misto de alegria e tristeza,
Há gente tão só no meio da multidão!
Há um menino que com toda a singeleza
Crê em Papai Noel e lhe pede proteção.

Sarau dos Poetas da Casa das Rosas - 19 de dezembro



Encerramento do ano de 2010. Foram lidos trechos de Clarice Lispector e poemas da autoria dos Poetas da Casa.
O sarau foi abrilhantado com a linda voz da cantora Margareth Magli acompanhada pelos músicos:
Joel Costa, Tiago Lisboa e Luís Magli.
Muito aplaudidos!
Parabéns! prestigiaram o nosso sarau.



Clarice Lispector nasceu em 1925 na Ucrania, filha de pais russos, chegou ao Brasil com apenas um ano de idade.
Foi uma das mais conceituadas escritoras brasileiras.
Faleceu em 1977

Segue um pequeno trecho do livro "A Paixão Segundo G.H."

A desistência é uma revelação.
Desisto, e terei sido uma pessoa humana - é só no pior de minha condição que esta é assumida como meu destino. Existir exige de mim um grande sacrificio de não ter força, desisto, e eis que na mão fraca o mundo cabe. Desisto, e para minha pobreza humana abre-se a única alegria que é dado ter, a alegria humana. Sei disso, e estremeço - viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono.
Chego à altura de poder cair, escolho, estremeço e desisto, e,finalmente me votando à minha queda, despessoal, sem voz própria, finalmente sem mim - eis tudo o que não tenho é que é meu. Desisto, e quanto menos sou mais vivo,quanto mais perco o meu nome mais me chamam, minha única missão secreta é a minha condição, desisto o quanto mais ignoro a senha mais cumpro o segredo, quanto menos sei mais a doçura do abismo é o meu destino. E então eu adoro.
Não sei mais se me apróximava com angustiada idolatria de alguma coisa,e com a delicadeza de quem tem medo. Eu estava-me apróximando da coisa mais forte que já me aconteceu.
Mais forte que a esperança, mais forte que o amor?
Eu me apróximava do que acho que era - confiança.
Senti que o meu rosto em pudor sorria. Ou talvez não sorrisse, não sei. Eu confiava.
Em mim? No mundo? No Deus? Não sei.

domingo, 12 de dezembro de 2010

NEULOGISMO

Processo de criação de novas palavras na Língua.
De tempos em tempos novas palaras surgem, e algumas ficam e se integram no vocabulário.
Em uma oficina de textos propuzeram-me escrever uma carta a uma amiga imaginária tentando criar termos um tanto absurdos.
Por exemplo:
Este me ocorreu no momento:
"O povo brasileiro nestas eleições decidiu em maioria "Lular" (votando em Dilma).



Aqui vai a carta pedida: (Isabel C. S. Sousa)

São Paulo - novembro - 2010

Queridgma
Mafalda

Como tá tua existinência? Quanto tempo não nos vemos!
Soube que encontraste a Francelina outro dia e perguntaste por mim.
Resolvi então escrever-te esta modestiosa carta.
Começo por te dizer que minha voz continua a mesma, mas os meus joelhos!
Gastigados!
Meus olhos dançarinos não brilhareiam mais.
Lembras-te quando sentadas no chão jogavamos às cinco pedrinhas?
Lastimagem!
Tentei outro dia; tenho cinco pedrinhas de estimação, as olhei e joguei issolitária lembrando-me de ti.
Sentada no chão? perguntarás tu:
Sentei sim.
Pra me levantar?
Tive que apoiar a mão no piso madeiriço.
Pois é amiga, continuo pobrete mas alegrete.
Escrevenho versos pra tudo; as minhas abstrantes vocabuleiras palavras divertem-me.
Meus joelhos não são mais os mesmos, pois então... não são como os de outrora, mas o meu coração vibra a cem por hora.
A minha pressão?
Coração à larga, sempre afoito... a pressão é doze por oito.
Se não me olhar ao espelho sinto-me bela!
Ah, tens que conhecer a minha cadela! é minha comandada, a amo! Ela retribui esse amor animalmente sem restrição.
Esta cidade? é um sufocázafama. Muitos carros desfiladeiam e outros se debateiam, as pessoas às vezes zaragateiam.
Mas eu gosto daqui. Esta cidadarrona tem mais de onze milhões de habitantes.
Vem vizitar-me. Espero-te ao desceres do avião.
Avionar é bestial!
Vais também conhecer o meu novo namorarido..
Com o meu abraçamento.
Sempre amiga e esperancence até ao final da estrada desta vida atribulada,
Maria Imaculada.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sarau dos "Poetas da Casa das Rosas" 28 de nov. de 2010



Homenagem aos Poetas "Malditos" estrangeiros.


Mário de Sá Carneiro (1890 – 1916)

Esperança

Esperança:
Isto de sonhar bom para diante
Eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
Bom de verdade
Bem feito de sonho
Podia segui-lo como realidade

Esperança:
Isto de sonhar bom para diante
Eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
Pura esperança
Esperança de verdadeira
Que engana
E promete.
Esperança:
Pobre mãe louca
Que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
Único que eu tenho
Não me deixes sem nada
Promete
Engana
Engano que seja
Engana
Não me deixes sozinho
Esperança.



Porém, um dia ele perdeu a Esperança e não conseguiu viver sem ela!
Suicidou-se em um quarto de hotel em Paris tomando arsênico.
Seu funeral foi simples organizado por um amigo que o encontrou no quarto se debatendo com a morte horrível dos envenenados.
Ironia, em contraste do que ele havia escrito neste pequeno poema.


Quando eu morrer batam latas,
Rompam aos saltos e pinotes
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas


Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.



( Que pena ele não foi de burro!)

Mais um poeta "Maldito" homenageado entre tantos outros. Todos merecedores de ficarem para sepre na História da POESIA.


Marcos Assumpção com seu violão interpretou belas músicas de sua autoria sobre as letras de poemas de Charles Baudelaire.

(Flores das flores do mal)




A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE

Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tuas vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!




Parabéns Marcos, foi lindo!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sarau dos "Poetas da Casa das Rosas" dia 31 de outubro


Homenagem aos "Poetas Malditos" brasileiros.
Assim chamados pelos temas polemicos abordados.
Abrilhantando o sarau tivemos o talentoso e simpático grupo musical "Tupi or not Tupi"

Segue um soneto de Augusto dos Anjos um dos muitos homenageados.
(Nasceu em 1884 - faleceu em 1914)


A Esperança

A esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a esperança por sentença
Este laço que o mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro – avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar: descansa!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

LIberdade


Liberdade

Isabel Sousa


Sonha... Te transporta
À soleira da tua porta
Quando te viam brincar,

Naquela rua pacata
Cantavas cantigas de roda
Jogavas amarelinha
Alegre pulavas corda

A noite caía mansinha...
Papai e mamãe a olhar...
Vovós e vizinhos também
Felizes a conversar

O sol morria lento
Naquelas tardes de verão,
Um gatinho pachorrento
Ao lado feliz um cão

Contempla a paz
Que reinava em teu passado
Ouve os grilos que cantavam,
Vê dançar os pirilampos...

Apesar da distância
Ainda paira no ar
Um cheiro de poesia
A vida tomou outra cor
Tomou outra dimensão...

Não tinhas computador
Nem tanta ansiedade,
Brincavas na calmaria
Respiravas liberdade!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ANO 3000 (Utopia?)

Isabel Sousa
Violência - opressão;
Intolerância - injustiça,
Palavras há muito banidas
Deste planeta terra
Ninguém sabe o que foi guerra,
Algo perverso, sem razão;
Quem nela lutou, sequer a entendeu.
Alucinação!
Armas? o que é isso?
Objetos de museu,
Impossível imaginar
Que algum um dia
Alguém as empunhou
contra o seu semelhante!
Deve ser lenda,
Produto da imaginação
De mentes doentias
De um passado distante!
Houve gente sem teto,
Crianças abandonadas
Mendigando afeto;
Sociedade injusta,
Um dia se perdeu
Em um mundo sem nexo!
Ano três mil,
Só há amor - paz;
Fraternidade - dignidade...
Em cada rosto um sorriso,
Um amigo em cada canto,
Há música...
O chilrear dos passarinhos,
A graça do beija-flor,
A imponência do condor
Pelos céus a navegar.
Inúmeras especies
Dos mais belos animais,
Muito verde, flores e mais flores...
As rosas não têm espinhos,
Exalam doce perfume.
Cristalinas águas,
Suavidade dos rios...
Imensidão dos mares;
Harmonia - gente feliz!
Ama - vive!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Marrocos ( olhar superficial do turista) - Isabel Sousa



Marrocos ( olhar superficial do turista)


Viajar, ver mundos jamais imaginados é algo fascinante.

Pela primeira vez visitei terras africanas, a minha viagem se transformou numa apaixonante aventura que começou ao atravessar o estreito de Gibraltar, onde por algum tempo fiquei entre dois mares: O Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo.

O Ferri-boat nos empurrou suavemente até à costa da África. Este continente é considerado o mais antigo e por isso chamado o berço da humanidade, foi o ponto primeiro dos grandes viajantes. Marrocos está situado ao noroeste da África, fez a sua entrada na história por volta do ano 1000 antes de Cristo; é banhado pelos dois mares citados em cima, emoldurado por diversas paisagens nas encostas mediterrâneas de fina areia rosada e na zona atlântica por altas montanhas e bosques.

Fora das margens dos rios a paisagem é deserta e sem água, portanto, essas zonas são desabitadas. Em alguns lugares a sensação é de que o tempo parou.



Ao sul do Anti Atlas começa o grande deserto do Saara um dos mais importantes e extensos do mundo, há pequenas zonas em que a água permite o crescimento de vegetação e fixação do homem, porém, há outra extensão de terras áridas, e todo o conjunto nos oferece uma mística calmaria. Só os camelos, mansos, conformados, ora descansam nas rosadas areias, ora caminham servindo de montaria a turistas curiosos que experimentam algo de encanto, fascínio, sonho, paz... Oásis! Não há nada que ver nem ouvir parece que o ser humano se nutre de estímulos, assim a vida interior redobra nossas forças.



É o deserto maior do mundo, composto de dunas e de vastos espaços sem água. A temperatura no ar chega a 40 graus, mas há grandes diferenças térmicas que fazem as rochas tremerem, estas rochas têm fortes oscilações que dão lugar ao fenômeno de dilatação e contração, produzindo um som que os árabes atribuem ao “gênio” do deserto.


As dunas mais altas podem atingir até 300m de altura.

É um país cheio de mistérios e costumes ancestrais a que, seu povo não quer renunciar.


Fazer uma viagem por Marrocos é trasladar-se a um tempo vasto, é o país dos sentidos, dos aromas. Em suas Medinas (a parte primitiva das cidades) encontramos fortes contrastes, os cheiros das especiarias e dos curtumes. À entrada nos oferecem um galho de hortelã, talvez para abafar os odores que se misturam ao esterco dos animais que dividem o espaço com os transeuntes; as ruelas são tão estreitas que por vezes até parece que os burrinhos carregados de mercadorias nos pedem licença para passar.



Passos à frente, talvez em segundos, nos confunde os aromas de perfumes ou de pão recém amassado, e a população circula aglomerada, mas, tranqüila. Alguns pobres idosos sentados no chão pedem esmola, crianças uniformizadas e de mãos dadas caminham para a escola, e, um doce sorriso parece dançar em seus lábios. Elas conhecem bem aqueles labirintos, nós, turistas, sem guia nos perderíamos de certeza.


Saindo das Medinas, as partes modernas das cidades são amplas, e deixam ver a passagem da civilização romana, nítidas marcas que nos impressionam, foram os romanos que deram um grande impulso às construções, estabeleceram o comércio, desenvolveram a agricultura e fundaram núcleos urbanos.



Hoje há largas ruas bem asfaltadas. Prédios e casas conservam nas fachadas a cor rosada das areias.

Temos então as Mesquitas, lugar destinado à oração, o chão das mesmas é coberto de tapetes.

Todo o muçulmano deve conservar em mente esta frase que está escrita no Alcorão: - “Fiéis, recordai muito a Deus... Glorifiquem-lhe manhãs e tardes!”. E, eles cumprem a obrigatoriedade de rezar cinco vezes ao dia.

Porém, há minorias judias e católicas que convivem em um exemplo de tolerância. Contudo para os muçulmanos não há mais Deus que Alá e Maomé seu profeta. O livro sagrado, “O Alcorão” que todos estudam desde crianças, para eles só tem valor se estiver escrito em árabe, língua oficial de Marrocos. Segunda língua obrigatória é o francês; na faixa norte também se fala espanhol, pela grande afluência do turismo e, pela fronteira com a Espanha. Atualmente os jovens procuram aprender também inglês. É grande a facilidade com que os marroquinos aprendem idiomas.

Juntei um grupo de crianças que repararam em meu chapéu de Porto Seguro e nele a bandeira brasileira, sorrindo diziam: Brasil... Clone... Jade...

Lembrando a novela que tão bem retratou aquele espaço e a vida na Medina em Fez, a cidade mais antiga de Marrocos.

Brincando, comecei a ensinar-lhes algumas palavras em português, com que alegria e facilidade as repetiam, claro que, entre muitas, eles fizeram questão de falar as que já sabiam, e com a minha ajuda as aprimoraram, como: Ronaldinho, Kaká, Cafu, etc..

Despedimo-nos enfim, e eles gritaram:
Viva o Brasil!

Uma coisa que muito me impressionou foi a ausência do nosso fiel amigo: - O cão. Não há cães em Marrocos, salvo algum de olhar desconfiado que surja nas montanhas, parece dócil, mas é selvagem, é considerado um animal indesejado, impuro.

Em compensação os gatos são bem quistos, magrinhos, cordiais, nos recebem roçando em nossas pernas e, aceitando um colo se lhes for oferecido.

Os árabes possuem um artesanato belo e rico, trabalham com vários metais, couros, ossos de camelo, etc..





A forma de negociar confesso que, para mim bem cansativa, pois nada tem preço fixo, o regateio é constante, regateando é possível fazer bons negócios, não há nada comparável à paciência de um vendedor marroquino, para eles não importa o tempo, nos dizem sorrindo:

-“Vocês têm o relógio, mas nós temos o tempo”.

Eles nos cercam nas ruas, e quando o negócio é feito nas lojas, mal nos apercebemos já estamos muitas vezes tomando um chá com eles e discutindo preços, ou... até em tom de brincadeira, disfarçadamente mostram a vontade de atravessarem a fronteira, se percebem alguma moça que topa algum galanteio, o dirigem sorrindo, e acrescentam:

Só casando com alguém de fora conseguimos um passaporte.

Poucas mulheres se encontram nas ruas, enquanto homens caminham por elas ou se agrupam e conversam animadamente; alguns de mãos dadas, e com toda a naturalidade se abraçam.

É proibida qualquer manifestação homossexual.

Não há assaltos, podemos transitar pelas ruas a qualquer hora sem receio. Se fotografarmos algo típico, ou mesmo pararmos para ver, por exemplo: um encantador de serpentes - um aguadeiro - uma criança transportada às costas da mãe, etc., logo nos estendem a mão para pedir moedas.

- Voltando a falar das cidades modernas, mas que envolvem alguma coisa do passado, como:

- Marakech, pelas largas ruas de asfalto firme, circulam carros, lambretas e charretes puxadas por elegantes cavalos, há os “Petit táxi”, são táxis que dispõem apenas de três lugares e realizam os trajetos urbanos, a maioria não tem taxímetro, normalmente se negocia o trajeto. Há os “Grand táxi”, estes são táxis coletivos para percursos interurbanos.

Não irei falar de todas as cidades, diferentes umas das outras, mas, que ao mesmo tempo se assemelham, destacarei Rabat, pelo majestoso palácio do rei, que ao percorrê-lo nos transportamos a um conto de fadas; guardas uniformizados parecem estátuas montadas em cavalos, é tudo muito bonito e limpo, e mais uma vez a presença da arquitetura romana se impõe. Em um determinado lugar daquela área ainda se pratica o antigo ritual do sacrifício ao cordeiro, o qual é assistido como um grande espetáculo, depois a carne do animal será distribuída pelos pobres.


Muita coisa mais teria para contar sobre este místico mundo, porém, limito-me apenas a um resumo.

Cheguei precisamente no mês de Ramadan, neste espaço de tempo todos os muçulmanos não poderão comer fumar, beber, nada de atos que dêem prazer, desde o nascer do sol até que ele se ponha.

As Mesquitas ficam lotadas e às suas portas uma diversidade de calçado; não sei como farão para saber quem são os respectivos donos dos ditos sapatos e chinelos na hora da saída. Enfim, creio que fora do mês do Ramadan alguma coisa mudará, talvez não haverá tanta gente tão compenetrada, alguns parecem meio cansados, não é fácil trabalhar quando se leva tanto tempo sem comer nem beber, porém, conservam sua amabilidade habitual.

Como nem tudo são rosas... Depois de tantos contrastes – cidades - zonas desérticas, oásis, altas montanhas, extensas planícies, lagos, redutos vulcânicos, bosques, etc.
Saímos de Fez caminho a Tanger, chamada a cidade dos ventos, clima ameno, pela sua beleza banhada por lindas praias Tanger se converteu a um grande centro turístico durante todo o ano.

Atravessamos novamente o estreito de Gibraltar para chegar às costas espanholas. Desembarcamos em Algeciras a fim de passar pelos trâmites da alfândega.

Nesse espaço de tempo, jovens tentam se esconder nas partes inferiores dos ônibus, e quando descobertos, são levados à força pelos guardas da fronteira, é realmente constrangedor!

A policia entra nos veículos, desparafusa o piso a fim de ver se alguém está escondido. São jovens oriundos de vários cantos da África que sonham sair da pobreza e tentar uma vida nova em Espanha.

Demoramos muito tempo na fronteira, talvez cerca de duas horas ou mais, a vistoria é intensa. Embarcamos mais uma vez no confortável Ferry boat.

Chegamos a Ceuta, que pertence à Espanha, cidade bonita, que conserva toda a característica árabe.

De novo no ônibus, encaminhamo-nos ao parque natural dos sobreiros, percorremos a rodovia nacional que se chama “La ruta del toro bravo” cheia de pastos dedicados à criação deste animal.

Retornamos então, ao mundo ocidental.

(fotos de Isabel)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Constante Renovação - Isabel Sousa



As quatro estações
Se vão repetindo
Repetem-se emoções
E a Natureza vai fluindo

Na Primavera – poesia
Flores – frutos – vento leve
Espreguiça-se a folhagem
Verde – bela – renovada...
Afinada sinfonia!
O sol nasce risonho e breve
Sensação de miragem
Tímida e espraiada,
Lentamente chega o verão
Nas flores – no verde – o cansaço
O brilho desvanecido
Rumores marcando o compasso,
O Tempo não é vencido
Jamais perde a razão

O enigmático Tempo desliza...
O Outono começa a sorrir
A Natureza impávida e precisa
Indiferente vê o Verão partir
As folhas tombam pelo chão
As árvores bocejam indolentes
No triste sentir das folhas ausentes

O Tempo sábio – matreiro
Mistura feiúra e beleza
Parece sorrir brejeiro
Com eterna sutileza
Solta as folhas ao vento
Tristes e abandonadas
Imagens de desalento
Vagueiam pelas estradas

Ele, o eterno – o diverso...
Lá vai com sabedoria
E comanda o Universo
Com estranha maestria

Sonho - glorificação
Numa magia suprema!
Em constante transformação
Parece soltar um poema

No entanto, no reino animal
Não há renovações
Como no reino vegetal;
Quando o inverno terminar
Não haverá mais estações!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Leitura do Jogral em homenagem a Lupe Cotrim
No Sarau dos "Poetas da Casa das Rosas
Em 26 de setembro.

Lupe Cotrim Garaude Gianotti

Maria José Lupe Cotrim Garaude Gianotti
Nasceu em São Paulo em 16 de março de 1933.
Grande poeta do século XX.
Estudou Literatura - Línguas e Artes, fez programa de TV que a projetou publicamente.
Foi professora de Estética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Se destacou na poesia, é frequente a citação do seu soneto "SAUDADE".
Em um sarau na Casa das Rosas acabou de ser homenageada, e alguns de seus inúmeros poemas foram lidos e apreciados.
Morreu em 1970.



SAUDADE

A saudade é o limite da presença,
estar em nós daquilo que é distante,
desejo de tocar que apenas pensa,
contorno doloroso do que era antes

Saudade é um ser sozinho descontente
um amor contraído, não rendido,
um passado insistindo em ser presente
e a mágoa do perder no pertencido

Saudade, irreversível tempo, espaço
da ausência, sensação em nós presente
de ser amor somente leve traço

num sonho vão de posse permanente.
Saudade, desterrada raiz, vida
que se prolonga e sabe que é perdida.

FÉRIAS INESQUECÍVEIS - Isabel Sousa

Férias inesquecíveis

Isabel Sousa


Era domingo, Pedrinho esperava ansioso pela chegada de Sara e de Daniel, dois primos que ele não conhecia. Iam chegar pela manhã e a expectativa era enorme.

Então chamaram a amiga Lilica para a chegada dos primos.

Tudo preparado para uma grande recepção.

Um churrasco no quintal - balões – bandeirinhas – como se fosse um aniversário. Pedro de 5 anos – Sara de 6 e Daniel de 8. Os dois últimos são irmãos e moram do outro lado do Oceano e como eu disse, Lilica que com a sua alegria não poderia faltar, ela tem 8 anos igual a Daniel.

O avião aterrissou, desembarcaram enfim. Os pais se abraçaram emocionados. Ah, quanto tempo não se viam!

As crianças tímidas se olharam, a pouco e pouco se aproximaram.

Daniel chamou Pedrinho e lhe disse:

Sou teu primo e Sara tua prima.

Pedro sorriu se aproximou de seu pai e perguntou:

Papai, por que é mesmo que eles são meus primos?

O pai respondeu:

Por que papai é irmão do pai deles.

Pedro confuso diz:

E, a mamãe não é?

O pai resolve abreviar os detalhes e com ar muito feliz apenas diz:

Primos – tios – vovós – é o que se chama família.

Olha que divertido, eu sou tio de Sara – de Daniel – a mamãe é titia deles – os pais deles são seus tios... Lá em casa vovô e vovó esperam por todos nós, vai ser um dia inesquecível!

O que é inesquecível, papai?

Quer dizer que nunca mais esqueceremos este dia.

E assim foi; as crianças junto com Lilica e toda a família depois do almoço foram para o parque - jogaram bola – correram - brincaram de esconde-esconde – pularam corda - Que divertido!

Depois de cansados sentaram na areia do parque e Daniel perguntou:

Quem sabe o que é um palíndromo? E o que é uma capicua?

Pedrinho pensou:

Este meu primo é louco! Que palavras estranhas!

Daniel prosseguiu:

Palíndromo, é uma palavra ou uma frase que se lê da mesma forma, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, capicuas são números que lidos nos dois sentidos são iguais, vamos ver quem consegue encontrar mais palavras ou números?

Vamos!

Gritaram todos.

Escusado será dizer que Lilica ficou interessadíssima.

E assim foi, Daniel claro que ganhou o jogo.

Colocou:

OVO – RADAR – OSSO – ANA, etc.

303 – 3003 - 2002 – 1991, 2112... E ainda acrescentou:

Ao que me parece outro ano capicua vai ser só no próximo século, foi a minha professora que falou. Parece que vai se no ano de 2112.

Pedrinho muito a custo arriscou alguns números:

33 – 44 – 55 – 66 – 77 – etc.

Lilica entrou no jogo e depois de muito pensar falou pausadamente:

“A MALA NADA NA LAMA”

“O GALO AMA O LAGO”

Pára, reflete e diz:

Ah, é difícil, agora capicuas é mais fácil!

22 – 55 – 101 – 1001...

Aí, ia embalada e tiveram que mandá-la parar.

Voltando ao Palíndromo:

Sara que já havia aprendido com o irmão, quis mostrar que entendia da coisa, inflou o peito e muito segura disse uma frase já decorada:

“O LOBO AMA O BOLO”.

Palmas para a Sara!

Grita Daniel, e encerra o jogo com as seguintes frases:

“ANOTARAM A DATA DA MARATONA”.

“A TORRE DA DERROTA”

“A DROGA DA GORDA”

“ATACA O NAMORO”

“A CARA RAJADA DA JARARACA”

Aqui os pais entraram no jogo, aplaudiram, e ainda acrescentaram outra frase conhecida, mas que para as crianças era bem difícil:

“SOCORRAM-ME SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS”

Os pequenos de 5 e 6 anos não entenderam muito bem, mas gostaram da farra.

.

Lilica adorou aquele dia no parque e arquivou em sua cabecinha tudo o que aprendeu.

Ficou sabendo o que são Palíndromos e Capicuas.

As férias duraram um mês e muitos dias alegres foram marcados, mas aquele primeiro dia jamais foi esquecido, confraternização – magia – e até uma pequena aula da nossa Língua Portuguesa.

Daniel - Sara e seus pais regressaram ao outro lado do Oceano, e prometeram voltar mais vezes.

Ao se abraçarem na despedida disseram:

Quem sabe um dia voltaremos para ficar definitivamente com vocês.

Pedrinho sempre atento a tudo que se diz fez mais uma pergunta:

Papai, o que é definitivamente:

Papai e mamãe sorriram e os dois responderam:

Quem sabe um dia os tios e os primos virão morar perto de nós para sempre. Que quer dizer:

Definitivamente.

Obá! Obá!

Gritou Pedrinho.

Assim terminaram umas férias inesquecíveis.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Depressão - QUASE - Isabel Sousa

Depressão
Isabel Sousa


Tempos modernos.

Depressão era uma palavra praticamente desconhecida.

Será que não é de tanto se falar nela que deprime a gente?

Li em algum lugar:

“Tu não estás deprimido, estás distraído... Distraído em relação à vida que te rodeia...”

Enfim, filosofias... Que nos levam a pensar, que nem tudo o que a vida nos tira será negativo, às vezes até nos liberta para que possamos voar mais alto.

Os problemas devem-nos servir de lições.

A felicidade é um dever. Não devemos cultivar nossas amarguras.

Tentemos pôr em prática nossos talentos.

Sofrer é normal, mas procuremos força para ver o lado bom que esta passagem pelo mundo nos oferece.

Procuremos na hora da depressão pegar um livro... “MIL E UMA NOITES” – “DIVINA COMÉDIA”... Escutar “BEETHOVEN” - “MOZART”... Olhar Pinturas... “REMBRANT” – “PICASSO”... etc.

Apenas sugestões... Tantas maravilhas!

E, por que não ouvir um samba? Ou ler poemas?

A poesia faz parte da vida.

Rabiscar um poema... Escrever algo que passa pela nossa cabeça... Faz-nos muitas vezes sorrir.

Se estás desocupado ajuda o próximo que precisa de ti.

Não há sensação melhor que a sensação de ser útil.

A vida muitas vezes nos traz mil razões para chorar, é certo, mas também nos mostra muitas para sorrir.

Ser feliz? É o ideal.
Pelo menos sejamos quase felizes.



QUASE




QUASE

Sou quase feliz
Quase que fiquei alegre
Ao sentir-me quase feliz
Felicidade não existe?
Estou quase triste
Não quero ser infeliz!

Faço força pra ser feliz
Quero apagar da memória
Coisas que quis fazer e não fiz.
Outras que teimei em fazer
Das quais me arrependi

Estou quase contente
Minha missão na vida
Está quase no fim
Cumpri tudo com emoção
Sinto enfim,
Que quase...
Não é vitória,
É conformação,
Como chegar à final
De uma competição
Ganhar a medalha de prata
Sendo quase um campeão!

Paisagem de Portugal - Isabel Sousa

Sintra - Portugal



Paisagem de Portugal
Isabel Sousa

Paisagem de Portugal
Onde canta o rouxinol
Brisa balança os trigais
Terra banhada de sol

Rouxinol


Pelas trilhas os pardais
Mais além os olivais...
Tordos saltitam por lá
E o pintassilgo inquieto
Voa pra lá e pra cá


Pardal

Bem ao longe no campanário
Vejo dourado o canário...
Sinto paz, luz e afeto...
A bruma no horizonte
Envolve-me em poesia
E para além da ponte
Canta alegre a cotovia


Cotovia

Também lembro o tentilhão
Com vários cantos distintos
Da toutinegra ligeira
Voando sobre a montanha


Tentilhão Zebra

Pintarroxo e seu gorjeio
E ao longe, bem de mansinho...
O negro melro se esgueira
Com um canto divinal,
Doces visões do passado
Lembranças de Portugal!


Melro Negro



quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Crueldade - Isabel Sousa




Crueldade
Isabel Sousa



Quando penso na chamada cadeia alimentar sinto um não sei quê de constrangedor.
O mundo está montado desta forma assim diremos.
Verdade, não tem como mudar a ordem das coisas.
Porém, ocorrem fatos inconcebíveis.
Fiquei horrorizada ao tomar conhecimento de como os animais que nos alimentam são tratados na maior parte das vezes.
Começando pelos galináceos (frangos e galinhas) que são confinados em cubículos onde mal se podem mexer, e para que não se biquem o que fazem por instinto natural tentando conquistar o mínimo de espaço que lhes é devido para que se possam locomover, então lhes é cortado os bicos.
Que barbaridade!
Parece que a União Européia se sensibilizou e está fazendo algo para abolir essas agressividades.
Pretendem também eliminar uma prática adotada na criação de suínos onde as fêmeas gestantes são confinadas em cubículos até darem à luz.
Precisamos tratar melhor os animais em geral, e, se não podemos fazer grande coisa, denunciar já é algo.
Assim como tentar proibir os rituais macabros com as ovelhas que são degoladas e sem poderem ser sedadas atendendo a preceitos religiosos em cultos muçulmanos, acontece até em países europeus, como na França por exemplo.
É realmente preocupante o tratamento dado aos animais que nos servem de alimento, no mínimo precisamos respeitá-los, já que não podemos virar todos vegetarianos.
Estudar o comportamento dos animais em geral é importante para nós humanos não nos sentirmos donos do mundo.
Eles têm sentimentos – amam – sofrem – e se expressam também quando se sentem felizes.
Um tempo atrás escrevi sobre as touradas, “diversão” covarde!
Espero que um dia elas acabem.
No Brasil não há touradas, mas temos os rodeios, os touros com aquela cinta que lhes deve provocar dores – mal estar – e os peões sentindo-se heróis sobre o sofrimento irracional dos animais.
Quem será mais irracional?


Segue-se um poema que escrevi há cerca de 10 anos. Talvez seja oportuno publicá-lo:



Luta pela sobrevivência
Isabel Sousa

Vejo um barco de pesca
Navegando em alto mar
Uma névoa opalina
Mescla-se à espuma
Das ondas cor de prata
Os pescadores lançam suas redes
E rasgam as entranhas
Das águas oceânicas

Homens simples
Rostos tisnados pelo sol
Tiram vida do mar
Para alimentar outras vidas
E os peixes se agitam
Na agonia da morte
Até sucumbirem
No meio das embarcações
Ou nas areias das praias

Os pescadores precisam da pesca
Para sobreviverem
Homens de quem ninguém fala,
Que enfrentam a força das águas
Em constante labutar
Vão ao mar pra ganhar a vida
E quantos a perdem no mar

A luta pra sobreviver,
Ah, como me faz pensar...
Não consigo entender
A cadeia alimentar
Em nome dessa cadeia
A gente pode matar!

sábado, 4 de setembro de 2010

Passeando pela Russia e da Russia para Portugal

Passeando pela Russia

Agosto/2010
Isabel Sousa



Sob o sol escaldante desembarquei em São Petersburgo. Antiga capital da Rússia. Cidade linda! Cheia de histórias. Seu primeiro capítulo começou em 1703 na pequena Ilha das Lebres, região norte do Rio Neva, onde sob as ordens do Czar Pedro I, o Grande, foi fundada a Fortaleza “Sankt-Piter-Burg”, que quer dizer a Cidade de S. Pedro.

São tantas as histórias!
Se fosse descrever todas as minhas emoções meu Blog viraria um livro.
A arquitetura daquela época nos impressiona demais! Está tudo preservado e lindo! As ruas são amplas – limpas e belas.
A parte cultural está sempre pronta a oferecer os mais variados espetáculos.
Isto é um pequeníssimo resumo duma simples turista que pela primeira vez pisou em terras russas.
A História dos Czares nos prende a atenção, às vezes nos parecem irreais.
Catarina a Grande – Alexandre o Grande – Pedro o Grande... E, aí vem o Ivan o Terrível! Que matou o seu próprio filho de 10 anos de idade.
Enfim, jamais poderíamos entender aquelas mentalidades.

O que estranhei na Rússia, é que nada se fala da época da União Soviética, passam a impressão de querer apagá-la.
Realmente não entendi, por que História é História.
Curioso que eles não se sentem europeus, talvez pela proximidade com a Ásia e se negaram a fazer parte da Comunidade Européia.
Devem ter as suas razões.






Depois de São Petersburgo embarquei num maravilhoso trem rumo a Moscou.(MOCKBA), perto de 5 horas e meia de viagem.

A paisagem, não direi deslumbrante, mas me fez lembrar um conto de fadas.
Bonitas casas dispersas, onde, segundo fui informada, geralmente as pessoas depois de aposentadas se recolhem nesses lugares fugindo do aglomerado das cidades grandes, plantando e colhendo muitas vezes seu próprio alimento.
Moscou é a maior cidade da Europa com cerca de 11 milhões de habitantes.
E mais uma vez me vejo encantada com tanta beleza.
Bem traçada – jardins – arquitetura medieval – o Kremlin, a Praça Vermelha, e muitas estátuas não faltando a de Lênin.
E aqui estou eu viajando em pensamento, e mais uma vez me toco que terei que abreviar minha descrição, temo sempre escrever demais.
Visitei museus – assisti a um maravilhoso Balé. Antes de começar o espetáculo nos é oferecido uma taça de champanhe com algumas iguarias típicas.
Acabado o espetáculo perambulamos pelas ruas de Moscou, parece uma cidade dourada.
Passava da meia-noite, a pé caminhamos para o Hotel, com tranqüilidade.
Moscou tem o Metrô mais famoso do mundo, ornamentado com as mais variadas estátuas e belos quadros, cada qual com sua história.

Porém, quando a gente se mistura com a realidade do dia a dia, com a aglomeração frenética dos transeuntes, aquelas escadas rolantes quilométricas, o povo correndo descendo ou subindo alheio ao movimento pachorrento dos degraus deslizando num ritmo normal, somado ao ensurdecedor barulho das locomotivas, digo que me senti um tanto sufocada.

Numa dessas aglomerações, alguém pisou forte o meu pé calçado apenas com umas havaianas brancas com a bandeirinha do Brasil “Ai! Que dor!” Saiu-me da boca esta frase batida:“Você não vê por onde anda?” Claro que o pobre nem percebeu e muito menos entenderia a minha frase. A dor abrandou ao verificar que ele era cego, com sua bengala corria tentando acompanhar o aglomerado e acelerado grupo de pessoas. Olhei para minha filha e lhe disse: “Precisei vir a Moscou para ver um cego a correr.”













Uma semana repleta de emoções. Valeu a pena!
Viagem inesquecível.
Pela Rússia andei em companhia de minha filha, foi maravilhoso!
Despedimo-nos em Moscou. Eu rumei para Lisboa e ela para Paris.


Claro que em Portugal vivi a emoção de me sentir turista na minha própria terra.
Apenas uma semana também, muita gente querida me recebeu de braços abertos, amigos e familiares. Revi meus netos portugueses, Raquel, Sara e Daniel, e, claro que o meu amado filho que trocou o Brasil por Portugal.
Gostaria de colocar aqui o nome de todas as pessoas que me abraçaram, como não dá, então lhes direi: “Estão todas no meu coração.”
Foi intensa essa semana! Visitei as cidades dos arredores de Lisboa, com Susana e sua filha Miri, eu brincava com elas e lhes dizia: “Adotei vocês, Susana minha filha e Miri minha neta.” Susana é filha de uma minha amiga de infância, que infelizmente o ano passado nos deixou para sempre.

Enfim, terei que parar por aqui, se prolongar esta narrativa, tornar-se-á cansativa.

Obrigada aos visitantes de meu blog.

SPASSÍBA (obrigada, a única palavra que aprendi no idioma russo)


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Passeando em Lisboa







Passagem por Lisboa - Isabel Sousa

Passagem por Lisboa
Isabel Sousa


Pousei meu olhar lasso
Nos calçadões de Lisboa
Cadenciando de leve meu passo
Vagueei um tanto à toa
Procurei lembranças
Dum passado distante
Quimeras – sonhos – andanças...
A Rua Augusta adiante
Com seu Arco imponente
Quando eu era menina
Aquele calçadão era inexistente
E, os elétricos pachorrentos
Deslizavam quase em surdina
Ora velozes ora lentos...

Eu gostei do calçadão
No Arco o relógio é o mesmo
Saí da Rua Augusta sorrindo
Avancei quase a esmo
Lá estava o Terreiro do Paço
A Estátua de Dom José
E o Tejo cada vez mais lindo!
Em minha mente lhe dei um abraço
E ele beijou o meu pé!
Além do Tejo, o Cristo Rei
Abrindo os braços em minha direção
Lisboa sussurra ao meu ouvido:
Tu tens saudades eu sei,
Mas teu amor está dividido
Do outro lado do Oceano
Tem uma chama de paixão,
Dum país que ano após ano
Te abriu os braços também

E, Lisboa como uma mãe,
Parece dizer baixinho:
Obrigada por teu carinho
Não me esqueças jamais
Cada coração é uma estalagem
Que sempre cabe alguém mais
Faz uma boa viagem
Volta, nem que seja em pensamento
Olha o meu mar e sente o meu vento!
(AGRADECEMOS OS COMENTÁRIOS SEMPRE MUITO ÚTEIS - A imagem foi substituida depois de postagem de nosso leitor)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Minha cidade - Isabel Sousa
















Minha cidade


Minha cidade
É iluminada de estrelas
As avenidas se entrelaçam
Há viadutos – túneis - paisagens
Não há pessoas oprimidas

Há o clamor dos poetas
Cantando versos de amor
Não há favelas
Nem crianças abandonadas
Não há miséria
Não há milionários
Não há seqüestros

Debaixo das pontes
Há canteiros floridos
Um misto de aromas e cores
Rosas – cravos – jasmins...
Gente sorri
Trabalha-se com alegria
A cidade se ilumina
De noite com as estrelas
De dia com o sol
Quando cai a chuva
Um cheiro de terra molhada
A brisa beija-me o rosto

Na minha cidade
Não há ciclones
Não há enchentes
Não há terremotos
Não há tornados
Não há assaltantes

Perguntaram-me então:
Onde existe essa cidade?
Na esperança – na ansiedade
Da minha imaginação!

domingo, 4 de julho de 2010

30 Anos sem Vinícius - Isabel Sousa

30 Anos sem Vinicius!

Vinicius de Morais um dos maiores poetas da Língua portuguesa, vida repleta de histórias.
Quando percebeu que como poeta não teria meios de ganhar a vida, colocou então seu talento na música e como valeu a pena!
Faço questão de registrar aqui um fato passado em Portugal, e, foi lindo!
No tempo da ditadura salazarista.

Vinicius fazia um show em uma casa de espetáculos em Lisboa, ao terminar alguém lhe sussurrou aos ouvidos:
Vinicius, é melhor você sair despercebido, que lá fora está uma confusão dos diabos, um monte de engravatados festejam o AI 5, que acabou de ser implantado no Brasil.
Vinicius não se abalou e saiu de cabeça erguida, e ao olhar aquele bando de “uniformizados”, calmamente declamou com galhardia o seguinte poema:

Pátria Minha
A minha pátria é como se não fosse, é intima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos da minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Por que te amo, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, sem Deus!

Tenho-te, no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até ao céu
Muitos se surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu saiba, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.


Ao terminar o poema, aconteceu a coisa mais inesperada e inesquecível.
O grupo de engravatados um a um despiu seus paletós e fizeram deles um tapete para Vinicius de Morais passar!

sábado, 3 de julho de 2010

O sapo e a rã - Isabel Sousa




O sapo e a rã

Isabel Sousa

Pula o sapo, pula a rã,
No riacho, na lagoa,
De tarde, de manhã,
Com sol ou com garoa

São anfíbios graciosos
Por insetos são gulosos

Tanta graciosidade
Nos causa encantamento!
É grande a variedade
No sub-reino animal,
Mas, rã e sapo afinal,
Estão a todo o momento
No repertório escolar
Nas alegres canções...
Vibrantes, com emoções...
Todos gostam de cantar!


Quando olho de repente...
Eu vejo num instante
Muito ágil saltitante
Uma rã toda contente
Coaxando alegremente

Chama o sapo pra brincar
E brincam até cansar!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Brasil (510 anos) - Isabel Sousa

Brasil (510 anos)
Isabel Sousa

Brasil ainda é jovem
Há cinco séculos nascido
Aprendeu a andar sozinho
Por vezes vacila e tropeça
É um gigante menino
Cheio de sonho e promessas

Um dia os navegadores
De um país de além-mar
Sonharam cruzar os mares
“Nunca dantes navegados”

As caravelas partiram
Lá do porto de Belém
Serenas deslizaram
Pelas águas azuis do Tejo

Algum tempo se passou
E as mansas águas
Ficaram para trás

O mar embraveceu
Os ventos uivaram
Ameaçando a paz
O Oceano gritava
Investia contra as caravelas
E perguntava:
Quem são vocês?
Que ousam cruzar minhas águas!
E, as naus à deriva
O lema era lutar
Contra a fúria do mar
Muitas vidas se foram
Sepultando seus sonhos
No fundo do Oceano
Até que o sol brilhou
O mar se acalmou
Terra à vista!
Alguém gritou,
Era o despertar!
Nativos apareceram
Nas areias quentes da praia
“Serenos e doces”
Como disse Caminha

Sob o esplendor do sol
Do céu azul e suave
Descem nuvens de algodão
E beijam aquele mar
Ondulado de branca espuma

Os lusitanos encantados!
Pegaram dois troncos
Ergueram simbolicamente
A cruz do Cristo Redentor
No horizonte uma luz
Nasceu naquele momento
A Terra de Vera Cruz

Mais além - verdes matas
Grandes árvores...
Troncos vermelhos
Que pareciam brasas
No sol escaldante

Inspiração...
Brasa – Brasil
Nome forte de varão

Nativos desconfiados
Olharam os invasores
Chegados de Portugal
Como um tratado de paz
Alguns objetos trocados
Até por um punhado de sal

O sol sorriu – o mar se espreguiçou
Beijou as areias – nasceu o Brasil!

Retrato de um jovem poeta - José Saramago

Retrato do poeta quando jovem
José Saramago

Há na memória um rio onde navega
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada

Há um nascer do sol no sítio exacto,
A hora que mais conta duma vida
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um saciar de sede inextinguida,

Há um retrato de água e de quebranto
Que no fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

FOLCLORE - ISABEL SOUSA





Folclore

Isabel Sousa



Que quer dizer folclore?
Pergunta Tiago curioso

Meio confuso papai responde:

Folclore é cultura popular,
Existe no mundo inteiro,
Um resumo vou-te contar
Do folclore brasileiro

Por exemplo:

A dança do “Maracatu”...
As “Calungas...
Bonequinhas coloridas
Oriundas da África,
Vem o “Bumba meu boi”,
“Boi Calemba e Curubi”...

E, a mula sem cabeça?
Que crendice popular...
Vem o saci Pererê,
Negrinho, moleque, travesso,
Pulando com um só pé,
Vira tudo do avesso

Folclore, Tiago,
É um conjunto de tradições,
Crenças, lendas canções,
Fábulas, mitos, baladas...
É uma fusão de culturas,
Um universo de sonhos,
Passados de boca em boca,
Resiste através dos tempos,
Com paixão e alegria,
Todos nós precisamos
De um pouco de fantasia!

SAUDADES - Isabel Sousa


SAUDADES
Isabel Sousa


Saudades de olhar à janela
O calmo transeunte que sorria
Na manhã plácida orvalhada
Ou na tarde que anoitecia
No infinito eu louvava a estrela
Que brilhava suave e delicada

Hoje a janela está fechada
Grade de ferro além da vidraça
A gente que passa vai apressada
Olhar a rua já não tem graça

A criança traquina que corria
Tocava a campainha e fugia
Não há na rua grupos de crianças
O portão baixinho e aberto
Deu lugar a muros de concreto
Ou de alto portão de ferro frio
Há no ar tênues esperanças
Dum mundo melhor menos vazio


Não conheço meu vizinho do lado
Se nos cruzamos, olha-me desconfiado
Misturada sensação de clausura
De incertezas – emoções...
É medo? Ansiedade? Insegurança?
As grades de ferro – os altos portões
Acentuam nossa frágil estrutura!



S. Paulo faz parte de minha história - Isabel Sousa

Rua Furnas em 1964



S. Paulo faz parte de minha história

Isabel Sousa


Quando cheguei à cidade de S. Paulo, aluguei uma confortável casa no Bairro do Mandaqui.
Havia chovido, olhei as folhas encarquilhadas que boiavam nas poças d´água; quis chorar, cerrei as pálpebras, senti-me impotente, as lágrimas haviam secado, estava frio, ficaria mais leve se chorasse. Observei o meu filho de um ano de idade – o meu marido sem emprego – entrei em casa – abri as vidraças e assomei à janela. A grandeza de São Paulo deu-me força.
Estávamos em 1964, imperava a ditadura militar, cujo regime me deixava um tanto assustada. No entanto, se dizia que São Paulo era a cidade que mais crescia no mundo. Então pensei:
Tentarei crescer com ela...
Embalados no sonho da casa própria eu e meu marido, começamos nos fins de semana a percorrer ruas e vielas até encontrarmos em construção uns sobrados no Bairro do Brooklin Paulista que nos agradaram. Compramos um, era amplo e confortável.
A rua era de terra, não havia esgoto nem água canalizada. Um poço no quintal abastecia a residência através duma barulhenta bomba hidráulica.
Dois ou três anos depois veio a água – esgoto – asfalto – e todo o bem estar do progresso.
Nesse espaço de tempo, precisávamos trabalhar.
Tempos atrás eu concluíra um curso de “Corte Costura e Bordados”. Com alguma propaganda de boca em boca tornei-me conhecida no Bairro. Coloquei uma placa na frente da casa:
“Modista - Professora de Alta costura”.
Foi só o começo de uma fase, muitas alunas e muito trabalho.
Em seguida meu marido também arrumou emprego e os ânimos se aqueceram.
O tempo foi passando – a família aumentou – nasceu o segundo filho – depois de aproximadamente oito anos nasceu uma menina.
Tudo se completava, e a primavera parecia eterna.
Até que um dia meu marido partiu. Senti o chão fugir-me debaixo dos pés.
Vi os três filhos à minha frente e São Paulo de braços abertos me desafiando.
Readquiri minhas forças. Decidi também mudar de profissão. Como não havia escolas infantis no Bairro, pensei montar uma em minha casa.
Conversei com várias mães que tinham filhos em idade pré-escolar, e elas apoiaram a idéia.
Alfabetizei muitas crianças do Bairro, e acabei ministrando também aulas para preparar os alunos do quarto ano primário ao extinto exame de admissão ao antigo Ginásio.
Mais uma vez olhei esta cidade que não pode parar e notei que algumas escolas surgiam por perto, o progresso estava acelerado, não tendo, portanto como competir com essas escolas bem estruturadas, assim mais uma vez mudou o rumo de minha vida.
E, São Paulo me apontando as oportunidades.
Trabalhei por algum tempo no conhecido, mas também extinto “Círculo do Livro”. Caminhei muito pelas ruas do Brooklin - Vila Olímpia – Itaim; visitando os sócios e pegando o pedido de compra de livros expostos nas revistas mensais.
Havia algo de provinciano no ar, as pessoas eram afáveis e em cada rosto aflorava um sorriso.
Depois de algum tempo desliguei-me do “Círculo do Livro”, foi-me então apresentada a oportunidade de trabalhar em uma Escolinha onde exerci o cargo de Educadora Infantil.

Retornando:
Cruzando a minha rua, se espraiava preguiçosa e despretensiosa a Avenida Eng. Luís Carlos Berrini. Um córrego a separava do outro lado do Bairro havia umas pontes improvisadas e estreitas precisando duma certa habilidade e equilíbrio para atravessá-las.
Espalhavam-se ao redor algumas chácaras. O campo ao lado de minha casa era repleto de eucaliptos; no meu quintal, um caramanchão de madre-silva exalava um perfume que combinava com as noites de luar e com o céu estrelado.
Os vizinhos se reuniam após o jantar; enquanto isso, as crianças brincavam na rua. Existia um não sei quê de parentesco entre todos.
Lembro-me da inauguração da Praça Gentil Falcão, o helicóptero desceu com uma figura política, não sei se era Governador ou o Perfeito; a Banda tocava, e tudo era festa, a Avenida se banhava no córrego, parecia sorrir.
Na esquina da Praça havia um matadouro, onde se ouvia o cacarejar das galinhas e, se cumpria claro a “lei divina” da “cadeia alimentar”, as coitadas eram mortas na frente do freguês. Vendiam-se ovos também. Hoje lá é o Banco Safra.
Crianças aos domingos empinavam pipas e quantas eu fiz para meus filhos! Outras andavam de bicicleta, as menores adoravam jogar pedrinhas no córrego.
Fecho os olhos – refugiando-me nas boas lembranças – consigo até ver poesia ao recordar as folhas encarquilhadas que boiavam nas poças d`água no dia em que cheguei à cidade de S. Paulo.

Eis aqui. Um pequeno retrato antigo de um cantinho desta cidade tão cheia de histórias, junto com ela alguns fragmentos da minha própria história.
Hoje a Avenida Eng. Luís Carlos Berrini não conserva nem uma sombra da simplicidade de outrora; quase imponente – Arquitetura moderna – Edifícios gigantes – Hotéis – movimento – É o progresso!

segunda-feira, 24 de maio de 2010




Pequenos sonhos
Isabel Sousa



O pobre homem todos os dias fazia o mesmo percurso.


Montado em seu burrico com dois recipientes de água pendurados na montaria do animal.


Em seu punho, um rebenque para cutucar o simpático jumento se necessário fosse.


Pingas de suor escorriam-lhe pelo rosto cansado e sempre taciturno. Aquele trajeto virou rotina.


No fundo sentia aviltante tal situação, mas com braço forte seguia em frente.


Sua mulher o esperava com um sorriso amarelo, e pegava os vasilhames despejando-os em recipientes improvisados para enfrentarem aquela seca maldita.


Cansados, um dia combinaram vender seus parcos haveres e com o produto dos mesmos rumaram a São Paulo.


Oh! Terra sonhada, quase idolatrada!


Chegados ao seu destino alugaram um barraco numa encosta. Em baixo o córrego corria tranqüilo e manso...


Não muito longe dali havia uma escola onde as crianças poderiam ir a pé.
Parecia tudo perfeito para recomeçar uma nova vida.


Logo ele arrumou trabalho na construção civil e a mulher de diarista em casa de uma boa família.


Depois do trabalho ele regressava ao seu pequeno lar, e feliz abraçava a companheira e lhe dizia sorrindo:


“Mamana” querida!


Beijava as crianças, conversavam um pouco, não tinham muito assunto. E a comida fumegava sobre a mesa da cozinha.


Rotina?


Seria... Se um dia, uma violenta tempestade não desabasse repentinamente. E foi um daqueles dias em que a Natureza se tornou agressiva e revoltada, parecendo dizer:


Comigo ninguém pode! Às vezes sou linda – maravilhosa – porém, há momentos que me enfureço, lembrando aos homens que há lugares que são só meus, ou alertá-los então, para se precaverem ao usá-los providenciando os necessários cuidados.


Foi em um dia desses que a Natureza se enfureceu que fez desabar a humilde habitação e todas as outras ao seu redor.


Os “heróis” desta história desolados preferiram regressar às suas origens e, lá foram rumo de novo ao sertão.


Resolveram não se obsedar mais e aceitaram aquela vida rotineira e quase vazia, tentando serem felizes com seus pequenos sonhos.