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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NATAL!


Isabel C. S. Sousa



Era noite de Natal,
Um garotinho
Com um retrato na mão
E a alma cheia de Fé
Foi devagar, pé ante pé
Colocá-lo no sapatinho
Junto à árvore de Natal

Ajoelhou e rezou
Uma pequenina oração,
Em seguida acrescentou:

Papai Noel
Não lhe pedirei presente
Como mamãe está ausente
Peço-lhe um favor então;
Que procure minha mãesinha,
Talvez esteja sozinha
E dê-lhe um abraço grandão.

Aqui lhe deixo a sua fotografia
Para que a possa encontrar no céu
Papai Noel, dê-lhe um pouco de alegria
E diga-lhe que não esqueço o rosto seu.


Há pelo ar um misto de alegria e tristeza,
Há gente tão só no meio da multidão!
Há um menino que com toda a singeleza
Crê em Papai Noel e lhe pede proteção.

Sarau dos Poetas da Casa das Rosas - 19 de dezembro



Encerramento do ano de 2010. Foram lidos trechos de Clarice Lispector e poemas da autoria dos Poetas da Casa.
O sarau foi abrilhantado com a linda voz da cantora Margareth Magli acompanhada pelos músicos:
Joel Costa, Tiago Lisboa e Luís Magli.
Muito aplaudidos!
Parabéns! prestigiaram o nosso sarau.



Clarice Lispector nasceu em 1925 na Ucrania, filha de pais russos, chegou ao Brasil com apenas um ano de idade.
Foi uma das mais conceituadas escritoras brasileiras.
Faleceu em 1977

Segue um pequeno trecho do livro "A Paixão Segundo G.H."

A desistência é uma revelação.
Desisto, e terei sido uma pessoa humana - é só no pior de minha condição que esta é assumida como meu destino. Existir exige de mim um grande sacrificio de não ter força, desisto, e eis que na mão fraca o mundo cabe. Desisto, e para minha pobreza humana abre-se a única alegria que é dado ter, a alegria humana. Sei disso, e estremeço - viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono.
Chego à altura de poder cair, escolho, estremeço e desisto, e,finalmente me votando à minha queda, despessoal, sem voz própria, finalmente sem mim - eis tudo o que não tenho é que é meu. Desisto, e quanto menos sou mais vivo,quanto mais perco o meu nome mais me chamam, minha única missão secreta é a minha condição, desisto o quanto mais ignoro a senha mais cumpro o segredo, quanto menos sei mais a doçura do abismo é o meu destino. E então eu adoro.
Não sei mais se me apróximava com angustiada idolatria de alguma coisa,e com a delicadeza de quem tem medo. Eu estava-me apróximando da coisa mais forte que já me aconteceu.
Mais forte que a esperança, mais forte que o amor?
Eu me apróximava do que acho que era - confiança.
Senti que o meu rosto em pudor sorria. Ou talvez não sorrisse, não sei. Eu confiava.
Em mim? No mundo? No Deus? Não sei.

domingo, 12 de dezembro de 2010

NEULOGISMO

Processo de criação de novas palavras na Língua.
De tempos em tempos novas palaras surgem, e algumas ficam e se integram no vocabulário.
Em uma oficina de textos propuzeram-me escrever uma carta a uma amiga imaginária tentando criar termos um tanto absurdos.
Por exemplo:
Este me ocorreu no momento:
"O povo brasileiro nestas eleições decidiu em maioria "Lular" (votando em Dilma).



Aqui vai a carta pedida: (Isabel C. S. Sousa)

São Paulo - novembro - 2010

Queridgma
Mafalda

Como tá tua existinência? Quanto tempo não nos vemos!
Soube que encontraste a Francelina outro dia e perguntaste por mim.
Resolvi então escrever-te esta modestiosa carta.
Começo por te dizer que minha voz continua a mesma, mas os meus joelhos!
Gastigados!
Meus olhos dançarinos não brilhareiam mais.
Lembras-te quando sentadas no chão jogavamos às cinco pedrinhas?
Lastimagem!
Tentei outro dia; tenho cinco pedrinhas de estimação, as olhei e joguei issolitária lembrando-me de ti.
Sentada no chão? perguntarás tu:
Sentei sim.
Pra me levantar?
Tive que apoiar a mão no piso madeiriço.
Pois é amiga, continuo pobrete mas alegrete.
Escrevenho versos pra tudo; as minhas abstrantes vocabuleiras palavras divertem-me.
Meus joelhos não são mais os mesmos, pois então... não são como os de outrora, mas o meu coração vibra a cem por hora.
A minha pressão?
Coração à larga, sempre afoito... a pressão é doze por oito.
Se não me olhar ao espelho sinto-me bela!
Ah, tens que conhecer a minha cadela! é minha comandada, a amo! Ela retribui esse amor animalmente sem restrição.
Esta cidade? é um sufocázafama. Muitos carros desfiladeiam e outros se debateiam, as pessoas às vezes zaragateiam.
Mas eu gosto daqui. Esta cidadarrona tem mais de onze milhões de habitantes.
Vem vizitar-me. Espero-te ao desceres do avião.
Avionar é bestial!
Vais também conhecer o meu novo namorarido..
Com o meu abraçamento.
Sempre amiga e esperancence até ao final da estrada desta vida atribulada,
Maria Imaculada.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sarau dos "Poetas da Casa das Rosas" 28 de nov. de 2010



Homenagem aos Poetas "Malditos" estrangeiros.


Mário de Sá Carneiro (1890 – 1916)

Esperança

Esperança:
Isto de sonhar bom para diante
Eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
Bom de verdade
Bem feito de sonho
Podia segui-lo como realidade

Esperança:
Isto de sonhar bom para diante
Eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
Pura esperança
Esperança de verdadeira
Que engana
E promete.
Esperança:
Pobre mãe louca
Que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
Único que eu tenho
Não me deixes sem nada
Promete
Engana
Engano que seja
Engana
Não me deixes sozinho
Esperança.



Porém, um dia ele perdeu a Esperança e não conseguiu viver sem ela!
Suicidou-se em um quarto de hotel em Paris tomando arsênico.
Seu funeral foi simples organizado por um amigo que o encontrou no quarto se debatendo com a morte horrível dos envenenados.
Ironia, em contraste do que ele havia escrito neste pequeno poema.


Quando eu morrer batam latas,
Rompam aos saltos e pinotes
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas


Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.



( Que pena ele não foi de burro!)

Mais um poeta "Maldito" homenageado entre tantos outros. Todos merecedores de ficarem para sepre na História da POESIA.


Marcos Assumpção com seu violão interpretou belas músicas de sua autoria sobre as letras de poemas de Charles Baudelaire.

(Flores das flores do mal)




A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE

Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tuas vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!




Parabéns Marcos, foi lindo!