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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ESPERANÇA? - ISABEL SOUSA




Esperança?

Enfim, uma noticia animadora vinda das bandas de Espanha.

Talvez sirva para eu parar de pensar que o ser humano continua “tribal”, e que nele se está acentuando cada vez mais a parte animal irracional. Depois do decorrer de inúmeros casos contra irracionais e... racionais, chego à conclusão que psicopatas em potencial se têm desenvolvido nos últimos tempos; sim, por que a ausência de sentimentos só será justificada com essa anomalia.

Voltando à noticia vinda de Espanha abordando a barbaridade das Touradas, espetáculo que durante uma infinidade de anos empolgou multidões perante tanta covardia.

Acabar com as touradas seria acalentar uma esperança na humanidade. Elas são praticadas em Espanha, onde o auge é matar o touro em plena arena, em Portugal é proibido matar o touro, mas, massacrá-lo é “lindo”! a elegância do toureiro leva multidões ao delírio, até canções alusivas à sua “coragem”; me lembro de algo assim:
“Toureiro de lusa raça/ De porte altivo e cortês/ Levanta em peso uma Praça/ Derrubando a brava rês “... ou: “Espada cravada de loiros/ Tu és o maior entre tantos/ Bravo matador de toiros/” etc. etc.

No México também se praticam touradas, mas não com a empolgação de Espanha onde elas fazem até parte dos programas turísticos.

Aproveitando a oportunidade direi que também está na hora de acabar com os rodeios no Brasil, a violência contra animais é muito triste e inadmissível.

A briga dos galos foi proibida, embora, clandestinamente em alguns lugares ainda seja praticada.

Neste fim de ano gostaria de alertar uma parte do ser humano que se acomoda na frase:
“O mundo não tem mais jeito”!

Porém, terá sim, não esquecendo que somos seres pensantes e atuantes.

Este desabafo servirá também para olhar de frente o cenário político que se desenrolou em Brasília, infelizmente nada surpreendente, e sabemos que mais uma vez a sujeira será arremessada para debaixo do tapete.

2010 está chegando, e mais uma vez renovamos nossa esperança em melhores dias.
Lutemos por um mundo melhor – abaixo a impunidade – abaixo a hipocrisia de fechar os olhos e de querer fazer acreditar aos incautos que nada está acontecendo.

É tudo natural, tudo o que acontece de mal, a culpa é de Pedro Álvares Cabral!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

MEU PRIMEIRO AMOR - ISABEL SOUSA

Este foi o primeiro texto que a Isabel criou na Oficina Idéias e Ideais da Casa das Rosas em 2008. Ela chegou e já foi falando de amor...






MEU PRIMEIRO AMOR

Meu primeiro amor passa em minha mente um tanto ofuscada por lembranças distantes.

Direi que ele aconteceu assim que aprendi a ler, ensinada pela minha irmã mais velha, bem antes dos sete anos, que era a idade de se entrar na escola.

Logo comecei a encantar-me por poesia, e a interessar-me pelos poetas. Aí, me apaixonei por Camões e ouvia a sua história com o mesmo encanto com que escutava a Branca de Neve, Cinderela... E outras fábulas.

Eu via tudo na minha imaginação...

Camões erguendo a bandeira portuguesa no final duma batalha em Fez, um mouro moribundo criou forças inexplicáveis empunhando a arma, e um tiro certeiro vazou o olho direito de Luís de Camões.

Tantos feitos!

Outro que muito me impressionou foi quando ele salvou os Lusíadas se atirando ao mar revolto numa tempestade temerosa com a mesma ânsia com que se tenta salvar um filho. Na mesma embarcação estava Dinamene, uma escrava que ele amava com paixão. Não deu para salvá-la. Ele tentou, mas não conseguiu, Dinamente foi tragada pelas águas, porém, os Lusíadas “A história de Portugal epicamente narrada” foram salvos, e o tornou imortal.

Talvez tenham sido criados mitos sobre suas paixões, não posso prolongar esta narrativa, poderia tornar-se enfadonha. Uma verdade é que ele morreu na miséria depois de ter vivido no auge e seu antigo escudeiro angariava esmolas para sobreviverem.

Acrescentarei o seguinte para justificar minha paixão por Camões:

Tive uma amiga que gostava de falar do tempo da escravidão, e me dizia:

Ah! Deveria ser bom ter escravos!

Perguntei-lhe:

Acreditas na reencarnação?

Deu uma gargalhada, e, eu também ri por que também não acredito.

Mas lhe disse:

É que fiquei pensando, que tu no passado deves ter sido uma sinhá, e, eu acho que fui a Dinamene.

Aos sete anos de idade eu escrevi o seguinte:

Luís Vaz de Camões
Símbolo da nossa história
Merecia ovações
Que o enchessem de glória

Por esmolas angariadas
Pelo Jau criado seu
Ele viveu horas amargas
Em Lisboa onde morreu.

AMOR UNIVERSAL - ISABEL SOUSA




AMOR UNIVERSAL

Amor universal?
É um mito.
Imaginar um amor universal será como uma viagem fabulosa que nos levará a um mundo que jamais existiu.
A própria Natureza nos confunde!
A luta pela sobrevivência é dura demais em todos os aspetos. Olhando os seres irracionais somos obrigados a entendê-los, por que eles agem por instinto, porém, os chamados racionais, a humanidade, na sua desmedida ambição, no seu egoísmo, e nos tempos de hoje acentuado o individualismo patente no subconsciente de todo o ser humano, torna impossível o amor universal.
Sonhei um dia com esse amor e o transportei ao ano 3000.
E como ser pensante, acredito que ele seria possível.

ANO TRÊS MIL


Violência, opressão,
Intolerância. Injustiça,
Palavras há muito banidas
Deste planeta Terra
Ninguém sabe o que foi guerra,
Algo perverso, sem razão,
Quem nela lutou sequer a entendeu...
Alucinação!

Armas? O que é isso?
Objetos de museu,
Impossível imaginar
Que algum dia
Alguém as empunhou
Contra o seu semelhante

Deve ser lenda
Produto da imaginação
De mentes doentias
De um passado distante

Houve gente sem teto,
Crianças abandonadas
Mendigando afeto
Sociedade injusta
Um dia se perdeu
Em um mundo sem nexo!

Ano três mil
Só há amor, paz...
Fraternidade, dignidade,
Em cada rosto um sorriso
Um amigo em cada canto

Há música...
Chilrear dos passarinhos
A graça do beija-flor,
A imponência do condor
Pelos céus a navegar

Inúmeras espécies
Dos mais belos animais
Verde, flores e mais flores
As rosas não têm espinhos
Exalam doce perfume

Cristalinas águas,
Suavidade dos rios
Imensidão dos mares
Harmonia... Gente feliz!
Num mundo global
Força, união, respeito...
É a voz, do Amor Universal!


RENOVAÇÃO - ISABEL SOUSA




RENOVAÇÃO

Abro os olhos brandamente... O dia desperta belo e manso... Músicas, poesia, se embaralham em minha mente.
Ouço os trinados dos passarinhos ensaiando sua orquestra matinal.
Suavidade...
Embalo meus sonhos...
As aves se agitam nas rumorosas folhas das árvores, os galhos balançam e se abraçam.
Depois o silêncio...
Olho ao redor e envolto numa pitangueira vejo um ninho de sabiá.
É vida... Esperança... Renovação!
Mais além flores se abrindo, o dia deslizará até a noite chegar e milhões de estrelas mesmo escondidas sorrirão em suas constelações, iluminando e contemplando o nosso misterioso mundo.
Este tempo primordial no hemisfério sul chega a nós com a aproximação de Setembro, assim eu sinto a juventude se aninhando timidamente em meu peito:
Começo mais um dia, sorriu e penso:
Estou viva!

AMOR PLENO - ISABEL SOUSA




Amor pleno

Que o amor amplie nossos horizontes e concretize nossos sonhos.

Este é o anseio pleno de todo o ser humano que nasce com a capacidade de amar, com aquele sentimento que pré- dispõe o individuo a desejar o bem do outro.

Todavia, ao se falar de amor, vem à nossa mente aquelas paixões arrebatadoras entre dois seres que juram se amar eternamente. É o amor sem limites, eles unem seus destinos e se complementam.

Um amor assim na época de hoje é raro se encontrar.

O tempo da “cara-metade” não existe mais, porém, eu creio que o amor entre duas pessoas inteiras é bem mais saudável. É sublime desejar ficar ao lado de alguém até ao fim da vida, sempre com a mesma cumplicidade... sorrir ao olhar as rugas que sulcam seus rostos e dizerem um para o outro:

Estas são as marcas da nossa maturidade.

Na verdade o amor fragmentado faz parte da vida, mas é pequeno.

Eu acredito no Grande!

ANDRÉ - ISABEL SOUSA




André

Isabel C. S. Sousa


André era um menino desnutrido, olhos profundos, dez anos de idade, mas fisicamente aparentava sete. Possuía uma inteligência peculiar.

O pai embrutecido pela rudeza a que fora submetido por toda a sua vida não entendia nem a fragilidade do pequeno André. Foi numa tentativa duma aproximação mais humana que a criança se dirigiu ao pai:

- Pai, estou cansado desta vida, eu queria ir à escola estudar e brincar como outras crianças.

- Que diabo te deu moleque? Carrega esses feixes secos e aprende a ser homem!

- Eu sou uma criança, pai.

- Da tua idade eu já trabalhava, deixa de fazer corpo mole.

Consciente ou não, o pai estava duro demais para se compadecer ou entender as lágrimas quase silenciosas duma criança que só queria crescer com dignidade.

ALBERTO - ISABEL SOUSA




Alberto
Isabel C. S. Sousa

Alberto se caracterizava pela sua simplicidade, mas sua esguia figura e seus olhos negros chamavam a atenção de quem o olhava, seus dentes alvos brilhavam em seu rosto moreno.

Naturalmente simpático exercia um fascínio nato, e qualquer coisa de enigmático o diferenciava dos outros colegas. Alberto era motorista de ônibus, daqueles ônibus que circulam em S. Paulo no complicado aglomerado de veículos – motos – gente - que em determinadas horas causa estresse em qualquer um.

Ele conservava a calma – educação – e, cumpria seu dever com maestria.

Curiosa, perguntei-lhe se nunca se irritava com os vários acontecimentos da falta de cidadania – com os congestionamentos e, tudo o mais desta metrópole que tantas vezes nos cansa.
Sem titubear respondeu:

Sou profissional, e como tal sinto-me na obrigação de conservar o meu estado de espírito atento a tudo ao meu redor, cumpro o meu dever.

Quando chego em casa abraço minha mulher e filho e esqueço que sou motorista.

Sonhei um dia ser médico, minha origem muito pobre não me deu oportunidade nem de tentar.

Acredito que se o tivesse sido seria um grande médico.

Precisamos ser bons em tudo que fazemos.

Recebi uma lição de cidadania.


SÓ UMA PEDRA - ISABEL SOUSA




Só uma pedra
Isabel C. S. Sousa


Pedrinho brincava num monte de areia em seu quintal, um muro o separava da rua onde era intenso o tráfego. Sua imaginação estava completamente alheia ao movimento lá fora.
Achou uma pedra pontiaguda que o incomodou e no mesmo instante a arremessou para a rua.
A mãe assustada o repreendeu e gritou:
Que fizeste Pedrinho!
Com um doce sorriso, simplesmente respondeu:
Que mal tem, era só uma pedra mamãe!

CRIANÇA É CRIANÇA - ISABEL SOUSA





Criança é criança

Isabel C. S. Sousa


Como é bom acompanhar o desenvolvimento duma criança e procurar entender a sua lógica, sim, por que nem sempre é igual à nossa, mas, bem no fundo ela é concreta, à sua maneira, é certo.


Há uma frase batida que eu sempre a contesto, pois me lembro de ouvi-la desde criança.


-“Ah, as crianças de hoje!”


Criança de ontem, de hoje, de amanhã... Na sua pureza - sua inocência – é simplesmente criança.


Se a criança de hoje fosse diferente da de ontem, não acreditaria em Papai Noel.


Ela é sempre uma esperança.


Soltando a imaginação
Uma menina dizia
Em suave melodia
Numa terna invocação:

Eu sou a criança
Eu sou o amor
Eu sou a esperança
Dum mundo melhor

Ajude-me a erguer
Quando tropeço
Com todo o carinho
Que sempre mereço

Ensine-me a enfrentar
O mundo que avança
A trilhar meu caminho
Com mais segurança

Eu sou o futuro
Eu sou a esperança.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A MORTE - ISABEL SOUSA




A morte

Os anos passaram lentos – monótonos - e os bons velhinhos nem olhavam para trás, seus olhos cansados não enxergavam mais as cores do mundo. Sabiam que já haviam passado há muito dos noventa, estavam beirando os cem anos de idade.
Lembravam-se das bodas de Prata - de Ouro – de Diamante – dos treze filhos que tiveram, e que andavam por este mundo afora tentando melhor sorte. Possivelmente em S. Paulo, o sonho dos nordestinos.
Em um lugar escondido no sertão de Pernambuco os simpáticos velhinhos viviam como se os dois fossem um só.
Pegavam da terra o sustento que seus corpos fragilizados precisavam. Ainda sabiam sorrir, seus rostos sem viço faziam lembrar figos secos há muito guardados em uma velha despensa.
Naquela tarde de sol, sentados nas cadeiras de balanço, balançavam... balançavam... devagar – tudo o que faziam era lentamente – os anos lhes foram tirando as energias – eles também não tinham pressa. Conversavam pausadamente – repetiam os assuntos – pois naquele sertão nada acontecia e suas mentes já nada criavam. Não que tivessem abolido o sentido de amar – sonhar – mas tinham desaprendido muitas coisas essenciais. Amavam-se, cada um ao seu jeito, sem ambições de poder, queriam simplesmente viver.
Naquele final de tarde eles falavam da morte feia e fria. A velhinha dizia:
Quando ela chegar iremos os dois juntinhos – não agüentaríamos viver um sem o outro.
O vento varria as folhas secas – e uma pancada na porta se fez ouvir – assustados os bons companheiros trêmulos perguntaram:
Quem é?
A morte – venham abrir...
Os dois se olharam com o medo estampado nos rostos e disseram:
Não conhecemos você, então não abriremos.
A Morte insistiu:
Está na hora – abram – venho trazer-lhes o descanso.
Aterrorizados com a cumplicidade no olhar não se moveram.
Vai você, diz a mulher.
Ao que o homem respondeu:
Não posso, minha perna está doendo – abra você por favor.
Ela estarrecida continuou imóvel.
Ambos olharam através da vidraça as velhas árvores firmes e fortes que haviam sido plantadas pelas suas próprias mãos e, murmuraram:
Plantamos árvores – tivemos filhos – lutamos juntos com muito amor...
O homem pensativo ergueu os olhos ao céu e pausadamente articulou:
Falta-nos escrever um livro – nossa missão não está cumprida aqui na terra – conversaremos com a Morte e entraremos em acordo.

Vá à minha frente eu ficarei para escrever um livro em nome de nós os dois – falarei do sertão – do nosso amor – dos nossos filhos...
Vá e espere lá que eu irei depois.
Ela replicou:
Como partir sem você? Se você não abrir a porta eu também não abrirei.
Apesar de velhinhos eles estavam voltados para a vida e não queriam deixá-la.
Cúmplices ergueram-se sorrateiramente e encaminharam-se para a velha cama de ferro deitaram-se e fecharam os olhos.
Uma sombra entrou pela janela abeirou-se do leito e deu-lhes o eterno descanso.
Pela manhã alguns amigos e parentes absortos fizeram o sinal da cruz.
Confiantes na vida acompanharam os hirtos corpos libertos e extintos à sua última morada.

INVENÇÃO - ISABEL SOUSA




Há muitos e muitos anos uma história se passou algures num ermo sítio.

Dois velhinhos bem casados – analfabetos convictos – espreguiçavam-se certo dia em que ouviram uma noticia fantástica:

Havia sido inventada uma máquina de escrever – isto foi no tempo muito antes da taquigrafia.
Olharam o seu burrinho e simultaneamente pensaram:

Uma viagem à cidade mais próxima para verem essa máquina... seria uma boa idéia.
Ora – ora – os filhos longe...

Raciocinaram então:

Com essa máquina poderemos mandar noticias aos nossos filhos!

Vestiram a melhor roupa, dinheirinho nos bolsos, montaram firme o simpático jumento, e lá foram rumo à cidade grande.

Quanto tempo demorou?

A história não contou.

Ao chegarem à cidade procuraram e encontraram a sonhada máquina.

Perguntaram ao vendedor:

Escreve de verdade?

Claro, tudo o que vocês quiserem.

Compraram.

Regressaram então ao pequeno sítio onde moravam.

Ansiosos colocaram o tão almejado objeto sobre a mesa, introduziram um papel branco no lugar certo e, começaram a falar bem alto na direção das teclas:

Querido Bira - ocê é o primero a recebê noticias de papai e mamãe – com esta máquina ocê não precisa aprendê a lê nem escrevê – é só sabê falá.

E, aquela geringonça permaneceu quieta e fria...

Desolados resolveram voltar à cidade para “aprenderem” como manejar a respectiva máquina.
Pegaram o burrinho e lá foram cabisbaixos.

Escusado será dizer que nada conseguiram. No caminho resolveram então que ela serviria de adorno como objeto raro, ficaria bem na frente da porta da entrada sobre aquele bonito móvel rústico que eles tanto gostavam.

Assim, trotando o animal já cansado, a mulher dizia afetuosamente dirigindo-se ao pachorrento burrinho:

Eu te digo a ti – cá homes praí mais bestas que tu mê burro.

Os dois companheiros continuaram unidos até ao fim de seus dias e descrentes das invenções dos homens.

IPITÁCIO E IRACEMA - ISABEL SOUSA



Ipitácio ama Iracema
E ela nem percebia
Mas ao ver o tal poema
Vibrou então de alegria.

Ipitácio lá na praça
Recitou com emoção
Bem alto cheio de graça
Estas rimas de montão:

“Sou caipira tenho fama”
“Mais caipira é quem me chama”
Sou poeta bem grandão
Tenho sempre os pés no chão

Outro dia, eu peguei um papelsão
Escrevi... escrevi... rimas de montão

Que poema bestial!
Mostrei-o à minha amada
Abriu o bocão afinal
Não sabia que era casada
Com o grande poetão
E me disse de chupetão:

Amor do meu coração
Sempre te achei um jumentão
Agora, te acho um figurão!
Letrado – poeta – queridão...

E, com tanta intensidade
Serei poeta e maridão
Neste nosso mundo cão
Até à eternidade!

CAMINHOS OPOSTOS - ISABEL SOUSA




Caminhos opostos

Isabel C. S. Sousa


Parecia tudo cor-de-rosa – depois de um casamento regado por uma paixão avassaladora - amor estilo romântico – tranqüilo... doce...


Ana - vinte e cinco anos – sedutora – olhos brilhantes – corpo graciosamente arredondado – passos macios e firmes – possuía tudo o que fascinava Pedro.
Pedro – cerca de trinta e cinco anos - era elegante - olhos esverdeados iluminavam seu rosto moreno – sua conversa fluía com desenvoltura e se denotava certa experiência de vida.


Ana se encantou por ele.


Seria o casamento perfeito, juntando os sonhos de ambos e estabilidade financeira.


Assim, algum tempo se passou e Ana fazia de sua vida um conto de fadas.
Até que um dia, há sempre um dia que nos rouba a fantasia. Em um programa de TV, Ana vê a foto de seu marido estampada na telinha fazendo parte dos procurados pela policia.


Foi como se a noite baixasse de repente e as estrelas se apagassem.
Descobriu então, que ele era traficante.


Atordoada pensou conversar com ele – pedir-lhe para mudar de vida.
Perguntar-lhe por que a havia enganado?


Seria óbvia a resposta, ele diria:


“Se eu lhe contasse você me rejeitaria e eu a amo demais!”


Não havia dúvida que ambos se amavam.


Ana pensou muito de inicio e tentou fingir ignorar a vida dupla de Pedro. Mas era difícil, se sentia hipócrita. Então abriu o jogo revelando ao marido a sua descoberta dizendo que não iria ser cúmplice fingindo que nada sabia - e reforçou – ou você sai dessa vida ou nosso casamento acaba aqui.


Pedro fez um enorme esforço para se manter calmo: Ana, eu amo você, só quero o seu perdão, mas o meu envolvimento é tão grande! A minha cabeça está a premio. Tentei levar uma vida digna depois de conhecer você, mas a vida do crime chega a tal ponto que não tem mais volta.


Alojou-se em seus corações a sensação angustiante do fim de uma história que poderia ter sido e não foi.


Quando a policia chegou Pedro entregou-se sem resistência, mas antes abraçou a esposa pedindo perdão novamente.


Foi como se tivessem construído ao redor de suas vidas um belo jardim de cristal, e que uma tempestade destruiu repentinamente, cujos estilhaços atingiram ambos profundamente.


Ana o perdoou, mas não poderia mais viver com ele. A pena de trinta anos os separou para sempre.


Foi então, que rumou sua vida amorosa para outra paixão que a levou a construir um novo jardim, mas, desta vez com bases mais sólidas.

PRESENTE DE NATAL - ISABEL SOUSA




Presente de Natal


Inúmeros contos de Natal já foram contados - recontados - e quase todos com o mesmo cenário.

A neve caindo como flocos de algodão – Papai Noel com seu trenó puxado pelas elegantes renas...

Este quadro poético todos os anos se aviva em nossa memória.

A neve sempre foi alvo de inspiração aos poetas e sonhadores. Basta imaginá-la para vê-la através das vidraças – então admirar os caminhos brancos e sublimes.

No entanto, a minha narrativa começará assim:

A chuva torrencial desaba impiedosamente sobre o Morro do Ipê amarelo – os moradores lutam para salvar seus parcos haveres...

Se ao invés da chuva fosse:

A neve cai suavemente sobre o Morro do Ipê amarelo – os moradores se extasiam e bendizem a Natureza...

Se seus habitantes não fossem pobres seria uma lindíssima paisagem – caso contrário eles ficariam enregelados e incapazes de se locomoverem.

Retornemos então ao Morro do Ipê amarelo.

O cenário é real e por vezes trágico, não quero dar-lhe uma dimensão de fatalidade, simplesmente pretendo narrar uma história de um Natal tropical.

A chuva cai incessante depois de um dia de sol ardente – há um misto de alegria e tristeza no ar.
Depois da luta pela sobrevivência – a chuva dá uma trégua.

É Natal!

Mas há sempre uma saudade no dia de Natal, por alguém que está longe ou, que já se foi para sempre.

Dentro dos toscos lares há luz – há esperança – risos – sobretudo na agitação das crianças que ansiosas esperam o Papai Noel.

A meia-noite se aproxima, então o Bom Velhinho de barba branca e sacola vermelha faz sua aparição escorregando por vezes no chão lamacento, mas é a hora de esquecer as dificuldades.

Distribui sorrisos, simples brinquedos e algumas roupas.

Entretanto, na casa do “seu” João havia duas crianças decepcionadas esperando em vão algum brinquedo ou alguma roupa. A mãe fora levada com urgência para a maternidade, e a comunidade ao meio do reboliço achou por bem respeitar o silencio da casa dos vizinhos.

A noite passou - o dia raiou – a mãe chegou perto do meio-dia.

Com o bebê ao colo e a alegria estampada no rosto abraçou com emoção os pequenos Rita e Luís dizendo-lhes cheia de amor:

Meus queridos, aqui está o presente do Papai Noel – olhem como é lindo!

Rita e Luís baixaram os olhos e responderam em coro:

Presente coisa nenhuma – Papai Noel se esqueceu da gente.

Em vão os pais tentaram melhorar a situação com várias promessas.

Outros natais vieram - Paulo foi crescendo – Rita e Luís mal o olhavam – ele representava a lembrança de um Natal triste – nunca queria brincar com ele.

No Morro do Ipê amarelo há pessoas que se consideram felizes apesar das dificuldades do local – conformadas – sonhadoras – há um mistério – um fascínio – quando os Ipês florescem o sol brilha e penetra nas ruelas.

O mato cresce livremente pelas encostas onde crianças brincam alheias aos perigos iminentes, nos encanta e ao mesmo tempo uma tristeza nos invade ao olhar aquele lugar desprovido dos recursos mais elementares.

Repete-se o Natal e nada muda.

Inicio do século XXI, e tanta gente vivendo sem conforto! Enquanto a pouca distância – outro mundo existe – progresso – sonho- magia – e ricas construções.

O Morro do Ipê amarelo lá está – uma capelinha improvisada bem no topo repica os sinos anunciando mais uma vez o nascimento de Cristo.

O dia amanheceu ensolarado, parecia rir da chuva forte da véspera.

Rita e Luís correram pela encosta do morro, Paulinho chorou que queria acompanhá-los. E, ainda disseram:

Não queremos cachorrinho atrás da gente.

Teimando, Paulinho os seguiu escondendo-se entre as árvores.

Os caminhos enlameados e escorregadios punham em risco a pequena aventura de cai e levanta daqueles pequenos exploradores de um espaço que eles tão bem conheciam.

A certa altura, porém, ambos escorregaram e se estatelaram dentro do córrego imundo.
Seguraram-se a uns galhos cujas raízes pareciam prestes a romper a terra encharcada. Não agüentariam por muito tempo e a forte correnteza os levaria na enxurrada.

Paulo pressentido a tragédia correu em busca de ajuda. Logo encontrou alguém que passava a alguns metros de distância e que prontamente os socorreu.

Desse modo a frágil e doce criança pode evitar uma tragédia.

Por fim, Rita e Luís, depois de restabelecidos do susto, comovidos abraçaram o irmãozinho e murmuraram juntos:

Paulinho, você foi o nosso melhor presente de Natal!

Os três se abraçaram e felizes voltaram para casa enchendo também de alegria a mãe e o pai.

Até o ipê amarelo deixou cair sobre a humilde casa as pétalas douradas de suas delicadas flores embelezando o cenário do começo de mais um capitulo que prometia muita paz e muito amor.