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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sarau Prata da Casa - 20 de agosto de 2011

Proesia (palavra inventada por Caetano Veloso) Mistura de prosa e poesia, foi o que n/ faltou em nosso Sarau, e... quantas vezes um trecho em prosa encerra sublime poesia!



Carolina Leite - Júlio de Ló e Rodolfo Vidal animaram o nosso Sarau - muita alegria e descontração.


Entre muitos e belos poemas foi feita uma pequena homenagem ao autor Júlio Dantas, com o trecho inicial da peça.

"A Ceia dos Cardeais"

Peça estreada em 28 de março de 1902.
O livro projetou o escritor no mundo, tendo 50 edições nas mais diversas Línguas, em 50 anos, atingiu 200 mil exemplares, o que era incalculável naqueles tempos da nossa literatura.

Peça em um ato, em verso.

Segue o lindo trecho que começa com a Fala do Cardeal Gonzaga ao descrever aos 84 anos, o seu amor de infância.

Na hora da Ceia ao redor da mesa os cardeais se confraternizam e um pergunta ao cardeal Gonzaga que estava muito pensativo...
“Em que pensas Cardeal? (ele responde:

Ai, como é diferente o amor em Portugal!
Nem a frase subtil, nem o duelo sangrento...
É o amor coração
É um amor sofrimento.
Uma lágrima... um beijo...
Uns sinos a tocar...
Um parzinho que ajoelha e que vai casar
Tão simples tudo!
Amor, que de rosas se enflora:
Em sendo triste canta, em sendo alegre chora!
O amor simplicidade,
O amor delicadeza...
Ai, como sabe amar a gente portuguesa!
Tecer de sol um beijo, e, desde tenra idade,
Ir nesse beijo unindo o amor com a amizade,
Numa ternura casta e numa estima sã,
Sem saber distinguir entre a noiva e a irmã...
Fazer vibrar o amor em cordas misteriosas,
Como se em comunhão se entendessem as rosas,
Como se todo o amor fosse um amor somente...
Ai, como é diferente!

Ai como é diferente o amor em Portugal!

(Interpretado por Isabel Sousa)

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei querida Isabel! Lindo texto declamado! Um beijo. Júlio

Marcos Nogueira disse...

Essa singela peça a conheci por intermédio de minha pequenina sogra. Sim, pequenina, mignon, mas com uma memória e singela sensibilidade que me emocionou ler a peça. Ela, já falecida, ainda a dizia de memória aos 96 anos. E para brincar conosco ao nos ver pensativos, perguntava-nos "em que pensas cardeal?", ao que inevitavelmente cumplices de seu humor, respondíamos como o fez Gonzaga..."em como era lindo o amor em Portugal"; pois era assim a versão que nos ensinou.
Obrigado por isso dona Isabel.