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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

INVENÇÃO - ISABEL SOUSA




Há muitos e muitos anos uma história se passou algures num ermo sítio.

Dois velhinhos bem casados – analfabetos convictos – espreguiçavam-se certo dia em que ouviram uma noticia fantástica:

Havia sido inventada uma máquina de escrever – isto foi no tempo muito antes da taquigrafia.
Olharam o seu burrinho e simultaneamente pensaram:

Uma viagem à cidade mais próxima para verem essa máquina... seria uma boa idéia.
Ora – ora – os filhos longe...

Raciocinaram então:

Com essa máquina poderemos mandar noticias aos nossos filhos!

Vestiram a melhor roupa, dinheirinho nos bolsos, montaram firme o simpático jumento, e lá foram rumo à cidade grande.

Quanto tempo demorou?

A história não contou.

Ao chegarem à cidade procuraram e encontraram a sonhada máquina.

Perguntaram ao vendedor:

Escreve de verdade?

Claro, tudo o que vocês quiserem.

Compraram.

Regressaram então ao pequeno sítio onde moravam.

Ansiosos colocaram o tão almejado objeto sobre a mesa, introduziram um papel branco no lugar certo e, começaram a falar bem alto na direção das teclas:

Querido Bira - ocê é o primero a recebê noticias de papai e mamãe – com esta máquina ocê não precisa aprendê a lê nem escrevê – é só sabê falá.

E, aquela geringonça permaneceu quieta e fria...

Desolados resolveram voltar à cidade para “aprenderem” como manejar a respectiva máquina.
Pegaram o burrinho e lá foram cabisbaixos.

Escusado será dizer que nada conseguiram. No caminho resolveram então que ela serviria de adorno como objeto raro, ficaria bem na frente da porta da entrada sobre aquele bonito móvel rústico que eles tanto gostavam.

Assim, trotando o animal já cansado, a mulher dizia afetuosamente dirigindo-se ao pachorrento burrinho:

Eu te digo a ti – cá homes praí mais bestas que tu mê burro.

Os dois companheiros continuaram unidos até ao fim de seus dias e descrentes das invenções dos homens.

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